quarta-feira, 1 de julho de 2009

Nova era?

Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo" de 01/julho/2009, no caderno "Opinião"

Fim das superestrelas
por Ruy Castro

RIO DE JANEIRO - Enquanto Michael Jackson não for enterrado, seu velório não terá fim. Cogita-se agora outra morte: a das superestrelas como ele. Analistas garantem que, com a pulverização dos meios pelos quais se pode consumir música hoje, não será mais possível alguém concentrar tal popularidade que permita vender 100 milhões de um único disco, como "Thriller", e passar 31 semanas no topo da lista da "Billboard".
Por um lado, isso é bom.

Tamanha concentração de poder, renda, sucesso ou do que for, acaba sendo nociva para o universo a que se pertence. Vide o cinema. Em 1977, com "Guerra nas Estrelas", Hollywood inventou o blockbuster, uma mistura de hiperespetáculo com promoção maciça e lançamento mundial simultâneo em 2.000 cinemas.

E daí? Daí que, enquanto milhões assistiam à "Guerra nas Estrelas", outros filmes, não tão mega, mas melhores, ficaram às moscas.

Ninguém mais quis produzir filmes médios, e "Guerra nas Estrelas" gerou uma quantidade de carbonos inúteis. O mesmo aconteceu com "Caçadores da Arca Perdida", "E.T." e os outros blockbusters de Steven Spielberg -cada vez menos filmes passaram a render mais dinheiro. Com isso, menos gente trabalhando, criando ou renovando.

No teatro americano idem. Musicais como "Cats", "O Fantasma da Ópera" ou "Miss Saigon" ficaram décadas em cartaz na Broadway, cada qual empatando um teatro, sustentados pelas manadas que os ônibus de turistas despejavam às suas portas. Quantas novas peças nunca foram encenadas porque não havia teatros para elas em Nova York?

Hoje, como se pode ouvir música por toda espécie de canais, ficou mais difícil à máquina impor o seu mau gosto à macacada.

Para muitos, já é possível selecionar o seu próprio repertório, ficar surdo para o resto e ser feliz para sempre.

Nenhum comentário: