domingo, 18 de dezembro de 2011

Era digital provoca mudança dos ventos

Texto publicado no site do jornal "O Globo", de 18/dezembro/2011, 7h35, atualizado 8h01, link: http://oglobo.globo.com/cultura/era-digital-da-musica-pune-os-artistas-que-nao-fazem-shows-3470469

Era digital da música pune os artistas que não fazem shows
por Luiz Fernando Vianna

Compositores veem queda de sua renda e da importância das canções

RIO - O letrista Mauro Aguiar diz que ser compositor hoje equivale a ter começado a fazer sexo na época da explosão da Aids.

A comparação se baseia nas dificuldades enfrentadas pelos autores que não costumam fazer shows, já que os avanços digitais, embora ampliem as possibilidades de gravação e divulgação, retiram os direitos autorais do centro do sistema de remuneração de artistas, lugar ocupado agora pelas apresentações ao vivo.

Na imensidão da internet, não há como aferir o quanto uma música é trocada ou tocada, enfraquecendo mais os que já arrecadam pouco com vendas de discos e execuções em rádios, privilégios de uma minoria. Um alento para eles foi o lançamento, na semana passada, da loja iTunes no Brasil, que poderá transformar em renda parte dessa movimentação virtual.

"O futuro do artista está no palco. O disco será só o ingresso. Imagino o momento em que vou me apresentar numa cidade por um preço que muita gente achará caro, mas quem pagar terá o seu artista num momento único, e ganhará um kit com CD, DVD e MP3", disse Lenine à revista "Piauí" em novembro.

Esse cenário torna nebuloso o futuro do artista que não ganha cachê para subir ao palco.

— As críticas ao capital no século XX são eivadas dessas atitudes receosas em relação às novidades: "Vai tirar do mercado uma quantidade significativa de criadores, produtores." Não tem jeito, é assim — afirmou Gilberto Gil em recente entrevista ao GLOBO.

Defesa das canções

As posições de Gil pró-cultura digital lhe custaram, durante os anos em que foi ministro da Cultura (2003 a 2008), polêmicas com letristas, entre eles Aldir Blanc e Ronaldo Bastos.

— O discurso da modernidade não pode ser contra o artista. Eu tenho certo orgulho de estar na contramão — afirma Ronaldo, que diz ter realizado neste ano o CD "Liebe Paradiso" para salvar sua vida e se livrar das conversas sobre direitos autorais, pois sua preocupação é a canção, cuja importância vem sendo reduzida, a seu ver.

— A canção é o fundamento da atividade artística e do negócio que gira em torno da música popular. Os cantores estão virando compositores, fazem coisas legais, bem produzidas, mas faltam as grandes canções. Querem fazer música brega e não são viscerais como os bregas originais.

Aldir, letrista de várias grandes canções, mas sem temperamento ou saúde para realizar shows, está sentindo as consequências da nova economia da música.

— Minha renda mensal cai há anos, e cada ano é pior que o anterior. No momento, estamos vivendo de empréstimos bancários e adiantamentos, cada vez mais difíceis, porque viram bolas de neve. Março, junho, setembro e dezembro costumavam ser os melhores meses, porque ao pagamento do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) somavam-se os pagamentos das editoras pelas vendas de discos. Hoje, você ter a abertura da novela "O astro" ("Bijuterias", música dele com João Bosco) não representa mais nada, seja como direitos de execução, seja como venda.

Maior transparência do Ecad é o que, como tantos outros, pede Mauro Aguiar, de 43 anos. Mesmo gravada por Ney Matogrosso, uma parceria sua com Zé Paulo Becker não lhe rendeu mais de R$ 200. Seu maior retorno se deu quando "Baião de Guanabara" (melodia de Guinga) foi gravada por Sergio Mendes nos EUA, onde as regras são mais claras.

— Resolvi fazer discos e shows para ter mais acesso ao público, mas sempre tive prejuízo nos shows — diz ele, que trabalha como designer.

As mudanças afetaram até um antigo campeão de vendas como Zeca Pagodinho. Os compositores de seus sucessos, que recebiam gordos adiantamentos, hoje também apostam em shows para complementar a renda.

— O ruim é passar vergonha, porque não entendem como o autor de "Deixa a vida me levar" não tem muito dinheiro — brinca Serginho Meriti.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Obesidade musical

Texto publicado no jornal "O Estado de S.Paulo", de 4/novembro/2011, caderno "Nacional"

Música, tecnologia e bananas
por Nelson Motta

Já vai longe o tempo em que a música popular ambicionava, e tinha, uma certa transcendência. Quando marcava e comentava momentos históricos e sociais importantes, era a trilha sonora de um mundo em transformação. Na era digital tudo mudou, a música se banalizou, está em toda parte, a todo momento, acessível a todos.

Hoje, todo mundo pode até fazer música, mesmo sem saber música. Com programas como o Garage Band qualquer um faz uma orquestração com cordas, metais, palhetas e percussões, com incontáveis ritmos e timbres e múltiplas escolhas de fraseados, tudo pré-gravado e programado para se harmonizar entre si. Nada garante que saiam bons arranjos, mas não ficam longe do que se ouve na música comercial de hoje...

No fim do século 20, David Bowie previa que, no futuro, o comércio de música digital seria como a energia elétrica, o gás, e a TV a cabo. O cliente teria uma assinatura e pagaria pelo seu consumo mensal. A música seria uma commodity, vendida a preço de banana. Tantos watts de eletricidade, tantos canais de TV, tantos quilos? Litros? Metros? Bites? de música.

Hoje, além de novos modelos de negócio que florescem em países com a cultura de pagar pelo que se consome, a comercialização globalizada de música, legal e pirata, acabou com o que restava das antigas ilusões de relevância, transcendência e glamour da música popular, que a velha indústria do disco desenvolveu, e sugou, à exaustão. A vulgaridade se tornou um valor indispensável ao sucesso de massa. Em compensação fazer e consumir arte musical se tornou mais fácil e acessível, bastam talento e um laptop. Há gosto para tudo.

Hoje, a música popular, a melhor e a pior, se tornou irreversivelmente banal, como uma banana. O contraponto da 'bananização' da música gravada é a valorização da música ao vivo, quando se cria entre o artista e o público uma relação pessoal e intransferível, muito além do contato virtual.

Há 20 anos, Caetano Veloso falava sobre fazer, ou não, novas músicas e dizia que já havia música demais em toda parte. E eu concordava com ele. Imagine agora.

Mas, afinal, para que serve a música?

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Duetos com Tony Bennett

Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo", de 11/outubro/2011, caderno "Ilustrada"

Bennett remoça jazz com Gaga, Amy e cia.
por Ronaldo Evangelista, colaboração para a Folha

Clássico "Body and Soul" foi a última gravação de Winehouse

"Duets 2" já entrou nas paradas de EUA e Reino Unido; Norah Jones e k.d. lang reforçam escalação de parceiros

Seria um simples disco de duetos, como o volume que lançou em 2006, com Tony Bennett — então com 80 anos, hoje com 85 — cantando um repertório clássico com novos parceiros, como Lady Gaga, Norah Jones e Mariah Carey. Mas o recém-lançado "Duets 2", que já lidera paradas americanas e britânicas, ganhou um peso emocional especial.

Notoriamente, deu-se que o encontro de mister Bennett com a jovem Amy Winehouse, para interpretarem juntos versão climática e intensa da música "Body and Soul", foi a última passagem da cantora por um estúdio e sua gravação final, poucos meses antes de morrer.

Assim como no primeiro "Duets", Bennett se encontrou com cada músico para gravar em dupla, pessoalmente, ao vivo. O que significa que o cantor gravou em casa, Nova York, com colegas como Lady Gaga, mas também viajou a lugares como Itália, para encontrar Andrea Bocelli, e Londres, para gravar com Amy.

O encontro humano e a interpretação olho no olho trazem ao disco um calor que cantores de vitalidade especial, como Amy, sabem aproveitam para máxima emoção. Sua performance, entregue como de hábito, e com forte influência de entonações e fraseados jazzísticos, é de estimular os ouvidos, mas de partir o coração.

"Ah, foi muito triste", falou Bennett à Folha, por telefone, sobre a partida da colega. "Ela era uma cantora muito boa, na tradição das grandes cantoras de jazz. E era tão boa quanto qualquer outra que já ouvi. Você pode ouvir isso no disco: se escutar 'Body and Soul' com atenção, pode perceber o quanto ela já sabia o que fazer e como fazer ao começar a cantar."

Desde o começo de sua carreira Bennett, é íntimo do jazz — chegou a gravar em dupla com o pianista Bill Evans nos anos 1970. "Acredito no jazz", comentou ele. "Acho que é um talento maravilhoso, ser capaz de improvisar — porque aí você trabalha para o momento, é algo muito honesto. É uma grande forma de arte. Aliás, o único arrependimento que eu tenho é de nunca ter gravado um dueto com Louis Armstrong."

Definindo-se como um "entertainer", o cantor explicou que a força do repertório que interpreta há cinco décadas sem grandes variações é a beleza das canções e sua qualidade atemporal.

"Nenhum país deu ao mundo tantas canções populares quanto os Estados Unidos", observa. "Todos conhecem e amam as composições de Cole Porter, Johnny Mercer. Essa música nunca vai morrer, ela vai eventualmente se tornar música clássica americana."

DUETS 2
ARTISTA Tony Bennett
GRAVADORA Sony Music
QUANTO R$ 59,90 (CD+DVD)

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ALGUNS PARCEIROS DE TONY BENNETT

AMY WINEHOUSE
"Body and Soul"

LADY GAGA
"The Lady Is a Tramp"

ARETHA FRANKLIN
"How do You Keep the Music Playing"

NORAH JONES
"Speak Low"

MARIAH CAREY
"When do the Bells Ring for Me"

QUEEN LATIFAH
"Who Can I Turn to (When Nobody Needs Me)"

K.D. LANG
"Blue Velvet"

ANDREA BOCELLI
"Stranger in Paradise"

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A crítica é sempre relativa...

Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo", de 2/outubro/2011, seção "Ombudsman"

IT´S ONLY ROCK´ N´ ROLL (but I like it)

por Suzana Singer, ombudsman@uol.com.br

Elton John "esfriou a plateia", onde "sobraram alguns cinquentões com sorriso no rosto" (Folha) ou o "público vibrou a cada gesto do cantor inglês" ("Estado")?

O show de Mike Patton, vocalista do Faith No More, foi "original e surpreendente" (Folha) ou apenas "uma enxurrada de clichês musicais, num clima de tarantela americanizada" ("Estado")?
O NX Zero merece estar entre as melhores performances (Folha) ou foi um zero à esquerda ("O Globo")?

As divergências acima dizem respeito ao Rock in Rio, que termina hoje. Elas desnudam o grau de subjetividade que existe na crítica musical -até em aspectos empíricos, como a reação do público.

Exemplos assim devem se tornar cada vez mais frequentes. Megashows no Brasil não são mais bissextos, mal termina esta edição do Rock in Rio, que reuniu 100 mil pessoas por noite, começa o SWU, com 12 atrações internacionais de peso.

Está na hora de o país ter uma crítica de rock mais profissional. Não basta jogar às alturas ou aos fogos do inferno. Quem escreve deve levar em consideração os objetivos do artista. "É uma estupidez completa dizer que as letras de axé são ruins. O que esse gênero se propõe é fazer as pessoas pularem Carnaval. E faz. O rock também é um troço simples, mas há espaço para ambições maiores, o duro é cumpri-las. Nesse sentido, o Vanguart é muito pior do que a Ivete Sangalo, porque ela chega aonde se propõe", afirma André Forastieri, 46, do site "R7".

A crítica deve informar, não só opinar. Quem escreve precisa ter repertório, conhecer história do rock e, sonho de consumo, ter uma razoável formação cultural.

"Criticar show não é contar quantas vezes a Rihanna mudou de roupa ou dizer que Claudia Leitte entrou voando. Precisa entender o contexto em que a banda estourou, o porquê daquelas músicas, avaliar a empolgação no palco", diz André Barcinski, 43, que escreve para a Folha.

Todos esses elementos ajudam a diminuir o peso do gosto pessoal, mas não o eliminam. Isenção total não existe. Quanto mais sincero o jornalista, mais ele deixa explícitas as suas idiossincrasias.
"Tem coisas altamente importantes na música pop para as quais a gente torce o nariz. Rock progressivo, por exemplo. Não dá pra desprezar um Genesis, Yes ou Emerson Lake and Palmer", diz o músico e produtor Kid Vinil, 56.

Marcelo Orozco, 44, editor da "Vip", usa como exemplo um jornalista fã do Sex Pistols, que será incapaz de elogiar um show de Dave Matthews Band. "O problema é avaliar um levando em conta os padrões do outro. Os leitores se sentem, com razão, aviltados."

O ideal é que o crítico tenha alguma afinidade com o que vai cobrir, mas não em demasia. Não deve se comportar como fã. "É o desapego que faz com que o cara diga certas verdades, que, se ele tiver uma relação emocional com o tema, vai omitir", assinala Pablo Miyazawa, 33, editor-chefe da "Rolling Stone".

O "desapego" permite ao resenhista ser implacável. No segundo Rock in Rio (1991), Luis Antônio Giron escrevia na Ilustrada que "Prince se deixou acompanhar por uma banda cujo som equivale a 80 Titãs bem-amestrados".

Desde então, muita coisa mudou. Prince e Titãs estão no ocaso e as pessoas não precisam mais da mídia tradicional para conhecer novos artistas: elas têm rádios na internet, sites de música, blogs, jornais especializados, YouTube, redes sociais.

Acabou-se o tempo em que privilegiados tinham acesso à produção estrangeira e traziam as novidades a Pindorama. Só que a quantidade de bandas novas é tamanha que os críticos de jornais e revistas servem de chancela. Eles são uma bússola no oceano pop. Não é o poder de outrora, mas ainda é uma tremenda responsabilidade.

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Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Documentário do Jazz

Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo", de 3/agosto/2011, caderno "Ilustrada"

O "jass", de A a ZZ
por Marcelo Coelho

A palavra "jass" teria origem no "jasmim", fragrância preferida das prostitutas de Nova Orleans

Está disponível nas bancas de jornal uma série de documentários sobre jazz, feita por Ken Burns, em 12 DVDs. Recomendo. Verdade que entendo pouquíssimo de jazz e por isso mesmo devo estar passando por cima daquele tipo de defeito que todo aficionado sabe apontar.

"Ah, esqueceram de Fulano, não deram importância à segunda fase de Beltrano no selo Verve..." etc. Também, o que fazer? Como em certa fase do cinema norte-americano, sempre que alguém é chamado de gênio, aparecem outros dez ou 20 nomes à sua volta mais geniais ainda. A mina de ouro parece nunca se esgotar.

Ou melhor, quem se esgota é o leigo no assunto, desconfiando de certo excesso de entusiasmo do interlocutor. No jazz, entretanto, isso pode ser mais verdade do que no cinema. Um músico termina estimulando o outro, e a possibilidade dos encontros e parcerias é obviamente maior do que entre diretores de cinema.

Comecei assistindo aos filmes sobre nomes e épocas que eu conhecia um pouco mais: Billie Holiday, Duke Ellington, os anos 30 e 40, como convém à minha caretice.

Uma surpresa foi ver as "big bands", do gênero Benny Goodman, terem para a época a mesma função que, décadas depois, seria exercida por Elvis Presley e Beatles.

O frenesi dos fãs e a agitação maluca dos salões de baile não têm nada em comum com a suavidade cheirando a brilhantina que pode ser associada a músicas tipo "Moonlight Serenade", de Glenn Miller.

Filmes de época, reproduzidos no documentário, mostram que muitos americanos, mesmo brancos, já sabiam chacoalhar-se bastante antes do rock. Em 1937, o desvairado baterista anão Chick Webb foi, segundo alguns dos entrevistados no documentário, o vencedor de um duelo histórico contra a banda rival de Benny Goodman.

Claro que as opiniões divergem.

Vendo as cenas daquele encontro, preservadas no DVD (sempre com ótima qualidade de imagem), a única coisa que se pode concluir é que estava em jogo, também, a resistência física dos participantes e dos ouvintes. A bateria de um e a clarineta do outro só faltaram explodir os pulmões, o coração e os músculos de todos, além das paredes do "dancing hall".

As fotos utilizadas no documentário — e Ken Burns é mestre em destacar detalhes significativos de cada imagem individual — são tão boas quanto os filmes históricos. Cada grande músico parece ter tido um grande fotógrafo ao seu lado.

Cometi o erro de deixar para depois o primeiro volume, dedicado aos anos 1890-1917. Parecia antigo demais; e ponha antigo nisso. É o tempo em que escreviam "jass", em vez de jazz. A palavra, segundo dizem, teria origem no "jasmim", fragrância preferida das prostitutas de Nova Orleans.

Até pelo que conta da cidade (meio brasileira, com uma população mestiça recusando suas origens africanas), esse capítulo inicial é indispensável. Vê-se o autointitulado "criador do jazz" Nick La Rocca, um descendente de italianos, negar qualquer influência dos negros naquele estilo musical.

Tensões raciais (e a sua superação gradativa) estão presentes, claro, o tempo todo no documentário. O caminho do humorismo popular, com um pé no grotesco e na visão estereotipada do negro, até a erudição quase impenetrável do "free jazz" se percorre em cinco ou seis décadas.

Talvez a erudição não seja questão deste ou daquele traço estilístico particular, mas de mero acúmulo quantitativo. O número das referências, daquilo que cada artista sabe ser do conhecimento de seu público, vai aumentando.

E cultura não é apenas "expressão" de um sentimento ou uma forma específica de linguagem. Não é também só "o que você sabe". Tudo dá um salto, na verdade, quando "você sabe que o outro sabe". Esse salto, que acompanha a liberação dos costumes e também a ascensão política e social dos negros, talvez seja a verdadeira história do jazz.

Assim parece, ao menos, quando se vê o documentário de Ken Burns — e se ouvem os comentários e exemplos musicais (infelizmente poucos) de um de seus entrevistados.

Pela simpatia, pela emoção e pela clareza dos comentários, Wynton Marsalis (trompetista de jazz e de música clássica ao mesmo tempo) vale, sozinho, o preço (R$ 19,90) de cada fascículo.

sábado, 25 de junho de 2011

Hoje, a memória musical vai até a esquina

Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo", de 25/junho/2011, caderno "Opinião"

De todos os tempos
por Ruy Castro

RIO DE JANEIRO - O site da revista britânica "NME" -"New Musical Express"- perguntou a seus leitores quais eram os "20 maiores cantores de todos os tempos". Dez milhões de pessoas responderam. Deu Michael Jackson na cabeça, seguido por Freddie Mercury, Axl Rose, John Lennon, David Bowie, Robert Plant, Paul McCartney etc. Dos 20, os únicos "antigos" são Ray Charles e Elvis Presley. Todos os outros são pós-1960.

Pelo visto, a música popular não existia até então. Frank Sinatra, por exemplo, de 1939 a 1982 — para quem acha isso importante — ganhou 31 discos de ouro, nove de platina, três de platina dupla, um de platina tripla e dez Grammys. Sua voz foi trilha sonora para mais beijos que a de qualquer cantor no século 20. E nenhum outro foi tão respeitado por músicos e musicólogos. Mas, para os leitores da "NME", ele não existiu.

Bing Crosby, muito menos. Ainda para quem gosta desses números, de 1927 a 1962 o campeoníssimo Bing emplacou 396 gravações nas paradas americanas; Sinatra, 209; Elvis, 149; os Beatles, 68; e nenhum outro roqueiro chegou sequer perto. Dessas, Bing pôs 38 no 1º lugar; os Beatles, 24; Elvis, 18. E calcula-se que, somente até 1980, Bing tenha vendido 400 milhões de discos. Mas, para os leitores da "NME", ele também não existiu.

Assim como não existiram Al Jolson, Louis Armstrong, Bessie Smith, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Judy Garland, Nat "King" Cole, Billy Eckstine, Mel Tormé, Peggy Lee, Doris Day, Sarah Vaughan, Tony Bennett e muitos mais, que construíram a canção americana. Cantores de outras línguas, como Carlos Gardel, Charles Trenet, Orlando Silva, Edith Piaf, Amália Rodrigues, João Gilberto, nem pensar.

A noção de "todos os tempos" dos leitores da "NME" é deliciosamente curta — vai só até a esquina. Além desta, há apenas uma caverna escura e sem fim.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

De olho no passado...

Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo" de 9/maio/2011, caderno "Ilustrada"

As novas cantoras antigas
por Thales de Meneses, de São Paulo

Garotas ganham hoje topo das paradas de sucesso bebendo na fonte de intérpretes dos anos 1950 e 1960

A top model inglesa Karen Elson, que se casou com o guitarrista Jack White (White Stripes), resolveu cantar. Afinada com os tempos modernos, passou a integrar o time das novas cantoras que buscam inspiração no passado.

"The Ghost Who Walks", seu primeiro e até agora único álbum, acaba de sair no Brasil pelo selo Lab 344. Trata-se de um disco belíssimo, de canções pop encharcadas de tristeza. Uma curiosidade: poderia ter sido gravado e lançado em, digamos, 1959.

Ter algum conhecimento sobre nomes de sucesso na história das intérpretes brancas de música popular americana e britânica tornam impossível ouvir o trabalho da moça sem pensar nas divas que encantavam multidões nas décadas de 1950 e 1960.

A comparação pode levar, por exemplo, a Julie London. Apesar do nome, foi uma lindíssima atriz e cantora americana de standards (temas de jazz que se tornaram conhecidos a ponto de ocupar as paradas de música popular).

Outra referência clara no disco de Karen Elson é Rosemary Clooney, mas ela não está sozinha na predileção.

Zooey Deschanel, mais famosa no Brasil como a atriz gracinha do filme "500 Dias com Ela", é vocalista do duo She & Him. Ela declarou que Rosemary Clooney é sua cantora favorita. Os dois álbuns já lançados pela dupla de Zooey também lembram as músicas gravadas pela tia-avó do ator George Clooney.

Amy Winehouse bebe na fonte de cantoras do chamado blue-eyed soul (astros brancos ingleses dedicados ao gênero nos anos 1960), como Dusty Springfield e Petula Clark. Mas adora cantar em seus shows o maior sucesso de Rosemary, "Tenderly".

Duffy, a loirinha galesa com voz de patinha que surgiu como uma possível versão comportada de Amy, é outra a construir seu som com ecos do passado.

Bernard Butler, ex-guitarrista do britpop Suede e produtor da moça, liberou para ela uma coleção de compactos de cantoras como Nancy Sinatra, Lulu e Sandie Shaw. Os álbuns de Duffy dão recibo da apropriação sonora.

Para completar um time de novas cantoras "antigas" só falta a que hoje se mostra a mais bem-sucedida delas: Adele. A inglesa fofa de 21 anos conseguiu rapidamente o que todas as suas conterrâneas querem: ganhar as paradas americanas.

Capa de uma recente edição da "Rolling Stone", praticamente um atestado de aceitação nos Estados Unidos, ela consegue equilibrar temas melancólicos, de paixões arrebatadoras e mal resolvidas, com hits animados. A crítica que a compara a Peggy Lee acerta em cheio.

As mocinhas deste século têm competência. Mas, em tempos de discos de qualquer época numa amazon.com, vale ouvir as originais.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Raízes revigoradas

Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo" de 29/abril/2011, caderno "Ilustrada"

Soul se volta às raízes e ganha paradas
por Adriana Ferreira Silva, editora do "Guia Folha"

Após retomada nos anos 90, estilo busca referência em sua época de ouro e disputa supremacia na indústria com o rap e o rock

Em formato atualizado ou no estilo retrô, gênero volta em peso e consagra nomes como Adele e James Blake

Amy Winehouse, 27, mais de 10 milhões de álbuns vendidos na era do download. Adele, 21, há 12 semanas se mantém no primeiro lugar das paradas britânicas. James Blake, 22, estreou em disco em fevereiro deste ano com elogios em sites e revistas do mundo todo.

Em comum, além de os três jovens cantores terem nascido no Reino Unido, está a soul music. O estilo, cuja época de ouro ocorreu no fim dos anos 1960, início dos 70, disputa com o pop rock e o hip-hop a supremacia da indústria musical. Com a vantagem de que os trabalhos mais criativos dos últimos anos têm referências, influências soul ou são pura e simplesmente retrô.

E esse não é um fenômeno exclusivamente britânico. Em seu país de origem, o soul embala os hits cafajestes de Cee Lo Green, ganha versão "funky" na voz de Janelle Monáe e faz sucesso em seu formato clássico com Sharon Jones and The Dap-Kings.

O hip-hop foi o responsável pelo "revival" do gênero, nos anos 90, com estrelas como Lauryn Hill, Erykah Badu e Alicia Keys, rimando no balanço dessa mistura de gospel e R&B, numa onda conhecida como "neo soul".

"Estamos agora numa fase retrô", afirma o cantor e produtor Simoninha, pesquisador do estilo. "A graça é gravar com equipamentos analógicos e lançar discos em vinil. É uma tendência se desprender das ferramentas digitais para criar ambientações de décadas passadas."

Para o produtor Pedro Albuquerque, curador do BMW Jazz Festival, que acontece em junho em São Paulo, esse retorno às raízes se personifica na figura do instrumentista americano Gabriel Roth, da banda The Dap-Kings.

Roth colaborou para o sucesso de Amy Winehouse, tocando e atuando como engenheiro de som no CD "Back to Black", lançou Sharon Jones e mantém uma gravadora, a Daptone, na qual os sintetizadores são "proibidos". "Tudo o que tocamos vem de instrumentos analógicos, e as gravações são feitas em rolos, como antigamente", explica Roth.

O rótulo, no entanto, incomoda a ele e a sua principal artista: "Não tenho nada de retrô", afirma Jones. "Minhas influências são daquela época, mas não parei no tempo."

Independentemente das etiquetas de "neo" ou retrô, as novas gerações trouxeram o estilo de volta às prateleiras. "Muita gente voltou a ouvir Otis Redding, e a procura por discos de Amy Winehouse se mantém grande", afirma Albuquerque, que também é consultor de acervo da Livraria da Travessa, no Rio. Lá, ele aposta numa seção dedicada ao soul, que, assim como em outros lugares, volta agora a ser pop.

domingo, 13 de março de 2011

Engenheiro vende...

Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo", de 13/março/2011, revista "sãopaulo"

PERFIL
O homem com mais de 1 milhão de discos
por Ronaldo Evangelista

Jorge Dias tem hoje um dos maiores acervos de vinis do Brasil, guardado na Mooca; engenheiro ajudou a implodir o Palace 2 e o Carandiru

Passando pelas ruas da Mooca , do Oratório ou dos Trilhos, é impossível não notar: os móveis, quadros, objetos e antiguidades ocupam todos os espaços, cobrindo portas e formando corredores. Os discos de vinil lotam estantes do chão ao teto com enorme pé-direito, e um casarão ostenta faixas de "Família vende tudo todos os dias".

São os quatro endereços da loja Presentes do Passado, também já conhecida como Sebo Jovem Guarda, cenário e memória viva da Mooca.

Por dentro, é ainda mais impressionante a variedade de coisas, em quantidade difícil de ser totalmente compreendida: máscaras africanas, órgãos analógicos, filmadoras, esculturas, revistas, lustres, pinturas, garrafas, muitos móveis, muitos quadros, muitos livros e muitos, muitos discos, além do simpático cão Delegado Billy e de sua namorada, Belinha, e do responsável por tudo, Manoel Jorge Diniz Dias, 55.

Até dois anos atrás, tudo não passava de hobby. Jorge — ou Manezinho da Implosão, como era conhecido — foi o engenheiro técnico responsável por "praticamente todas as implosões que você viu na televisão".

Entre os mais de 80 prédios e 200 pontes que trouxe abaixo, cinco pavilhões do Carandiru, o prédio da Cesp na avenida Paulista e a mais difícil e famosa implosão do Brasil: a do edifício Palace 2, em 1998. Em sua carreira de destruidor, dava até autógrafos.

Parafusos
Em 2000, com o mesmo impulso que o fazia visitar fábricas na infância para conseguir parafusos e revender em oficinas mecânicas, Jorge comprou, em um leilão, todo um lote de produtos da Avon, de calcinhas a CDs.

Montou ponto perto de casa, na rua do Oratório, e seguiram-se trocas e compras de livros. Em pouco tempo vieram telas e objetos e, finalmente, vinis. Hoje, Jorge é dono de um dos maiores acervos de discos do país, com mais de 1 milhão de itens.

"Quando garoto, colecionava chaveiros, caixas de fósforo, embalagens de cigarro", lembra. "Coleção tem um poder de sedução muito grande e só vai ganhando valor com o tempo."
Foi a paixão pelo colecionismo somada à experiência de reciclagem. "A demolição está sempre associada ao reaproveitamento. Você aproveita cada material", diz Jorge.

Caminhões de bolachas
Em 2003, Jorge encontrou um lojista interessado em vender um grande lote de vinis para comprar um imóvel. Com ele, era o inverso. "A gente se cruzou e comprei 200 mil discos de uma vez só", conta. "Tive que levar tudo em dinheiro e, toda noite, durante uma semana, carreguei caminhões e caminhões de discos de vinil."

Hoje, ele vem diminuindo o trabalho com as implosões e aumentando o tempo que dedica aos discos e às antiguidades, que já geram lucro.

Além de pagar seis aluguéis mensais para manter tudo estocado (um dos quatro galpões é composto por três imóveis conjugados), contratou uma equipe de nove pessoas, que passa os dias colocando todo tipo de coisa em sites de leilão na internet, como Mercado Livre e eBay.
Chegou a mil itens cadastrados por dia e já tem catalogados 290 mil. A meta é atingir meio milhão. Hoje, ele vende, em média, 40 objetos por dia.

Os números são tão altos que Jorge vislumbra a chance de criar um centro cultural. "Qualquer museu que a gente monte com esse acervo será maior que o de qualquer entidade", diz. "Penso em criar um polo cultural ou armar uma parceria, por exemplo, com o Instituto Moreira Salles. Mas ainda estamos avaliando tudo."

Curiosamente, Jorge não tem uma relação especial com a música. "Gosto mesmo é de olhar as capas", confessa, com sorriso de criança que completou a coleção.

SERVIÇO
Os 4 endereços da loja Presentes do Passado na Mooca R. dos Trilhos, 1.212; r. da Mooca, 3.401; r. da Mooca, 2.631; r. do Oratório, 838; tel. 2606-0127.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Taiguara, Vinicius...

Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo" de 17 de fevereiro de 2011, no caderno Cotidiano

"Que as crianças cantem livres!"
por Pasquale Cipro Neto

Os muros a que se refere Taiguara são sobretudo os metafóricos muros que separam as trevas da luz

A ANTOLÓGICA "Elegia na Morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes", de Vinicius de Moraes, começa assim: "A morte chegou pelo interurbano (...). Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva. De repente, não tinha pai. No escuro de minha casa em Los Angeles...".

O diplomata Vinicius de Moraes servia nos Estados Unidos quando seu pai morreu. Se você não conhece essa "Elegia", trate de conhecer. Basta entrar no belíssimo site de Vinicius e ler. E chorar. Chorar muito. Nas artes, Vinicius é um dos meus tantos "pais". Sinto-me "órfão" dele, assim como me sinto órfão de Drummond e de outros tantos.

Na música popular, também tenho os meus "pais", muitos dos quais os leitores conhecem bem. Mas um deles talvez eu tenha citado poucas vezes ao longo dos anos. Refiro-me a Taiguara, que morreu em 14 de fevereiro de 1996, ou seja, há quinze anos. Eu estava em Portugal e, como Vinicius, recebi a notícia fúnebre pelo telefone. Imediatamente me senti, mais uma vez, "órfão" de um poeta sensível e refinado.

Na hora, lembrei-me de uma conversa com um querido amigo dos tempos de colégio, o hoje jornalista Delamar da Cruz, sobre uma cena que presenciamos em nossa adolescência. Em plena Copa de 70, com a ditadura e a lavagem cerebral a mil, a multidão se reunia nas ruas, na praça da Sé ou em frente ao teatro Municipal, para ouvir os jogos. Já havia TV direta, mas não havia telões. Nas ruas, o negócio era mesmo o rádio. Enquanto o jogo não começava, música. E Taiguara, dizendo em sua antológica "Hoje": "Hoje / As minhas mãos enfraquecidas e vazias / Procuram nuas pelas luas, pelas ruas... / Na solidão das noites frias por você (...) Hoje / Homens de aço esperam da ciência / Eu desespero e abraço a tua ausência / Que é o que me resta vivo em minha sorte".

Imagine o contraste entre o frenesi do povo e o sentido da letra de Taiguara... O caro leitor notou como o poeta trabalha o par verbal "esperam/desespero"? Por favor, leia "desespéro" (é verbo). Notou que, em "eu desespero", Taiguara emprega o verbo com o sentido de "perder a esperança"? Na letra, esse verbo pode ser tomado como transitivo indireto, com objeto indireto subentendido ("eu desespero da ciência") ou simplesmente como intransitivo ("eu desespero", com o sentido seco de "perco a esperança").

Taiguara era nobreza pura. Em outra obra-prima, "Maria do Futuro", diz ele: "Nessa rede ela prendeu / Minha dor civil, minha solidão. / Nessa rede eu vi nascer minha liberdade (...) E em cadeias de amor puro / viver guardado / Joga areias do futuro no meu passado". Maravilha! Que beleza a aparente antítese "rede/liberdade"! Que bela noção de liberdade cria o jogo rede/cadeias/areias (do futuro no meu passado)! Bem, para muita gente não é tão fácil assim captar o que é a verdadeira liberdade, sobretudo quando ela vem por imagens poéticas...

Encerro esta lembrança de Taiguara com versos de uma de suas antológicas canções, cujo nome é o título desta coluna: "Vê como um fogo brando funde um ferro duro / Vê como o asfalto é teu jardim se você crê / Que há um sol nascente avermelhando o céu escuro / Chamando os homens pro seu tempo de viver / E que as crianças cantem livres sobre os muros / E ensinem sonho ao que não pôde amar sem dor...".

Os muros a que se refere Taiguara são muitos, mas são sobretudo os metafóricos muros das barreiras que separam as trevas da luz, a mediocridade da criatividade, a teimosia da abertura mental e psíquica, separam a inércia do movimento para a frente, para o novo, para a revisão do velho conceito. Onde estiver, um beijo, caro Taiguara. É isso.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Perdoem nossa falta de memória...

Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo" de 22/janeiro/2011 , no caderno "Opinião"

País esnobe
por Ruy Castro

RIO DE JANEIRO - Em 2011 teremos o centenário de muita gente boa da música brasileira -compositores e letristas a quem devemos tanta beleza e alegria na área do samba, do Carnaval, da valsa, do samba-canção, até do fox. Tais efemérides deveriam se estender pelo ano todo, com shows sobre eles por cantores novos e velhos, debates entre especialistas, lançamento e relançamento de seus discos e, quem sabe, biografias e documentários.

Mas, como aconteceu com Noel Rosa e outros que fizeram cem anos em 2010, esses artistas só serão lembrados no próprio dia do aniversário e, mesmo assim, por iniciativa de fãs devotados. Eis alguns.

A 1º de fevereiro, será o dia de Pedro Caetano, autor das obras-primas do samba "Foi uma Pedra que Rolou", "Onde Estão os Tamborins?" e "É Com Esse Que Eu Vou", e co-autor de "Caprichos do Destino", "Sandália de Prata", "A Dama de Vermelho", "Eu Brinco", "A Felicidade Perdeu seu Endereço". No dia 7, será a vez de José Maria de Abreu, cuja obra vai de valsas como "Boa Noite, Amor" à modernidade de "Alguém Como Tu" e à irresistível euforia de "Pegando Fogo".

Em março, teremos os cem anos de dois favoritos de Carmen Miranda: no dia 14, o de Synval Sylva ("Adeus, Batucada", "Ao Voltar do Samba", "Coração", "Gente Bamba"); no dia 19, o de Assis Valente ("Minha Embaixada Chegou", "E Bateu-se a Chapa", "Uva de Caminhão", "Recenseamento", "E o Mundo Não se Acabou", muitas mais). E, a 23 de maio, será a vez do letrista Mario Rossi, parceiro de Roberto Martins no samba "Beija-me" e no fox "Renúncia", e de Marino Pinto no bolero (sim!) "Que Será?" ("Da luz difusa do abajur lilás/ Se nunca mais vier a iluminar/ Outras noites iguais...").

Isto apenas entre os aniversariantes que serão esnobados no 1º. semestre. Mas, até o fim do ano, o Brasil promete superar-se e esnobar Nelson Cavaquinho.