Texto publicado no jornal "O Estado de S.Paulo" de 25/janeiro/2009, no "Caderno 2"
Magia do som
por João Luiz Sampaio
O maestro Julio Medaglia lança história da música e defende 'poder feiticeiro' da criação como instrumento de mudança
E se vivêssemos em um mundo onde a música perdeu completamente sua autoridade como forma de arte? O quadro é difícil de imaginar mas, para alguns autores, é exatamente onde estamos.
Para eles — e o grupo inclui nomes de peso como o intelectual palestino Edward Said, morto em 2003, ou o maestro argentino Daniel Barenboim —, depois de décadas aliada ao mercado e afastada das questões mais relevantes de nossa época, a produção musical chegou a uma encruzilhada. Sim, concorda o maestro Julio Medaglia. Mas basta observar a história da música para perceber que ela "sempre foi forte arma de alteração do comportamento humano". E que pode voltar a ser.
Seu novo livro, "Música, Maestro", é uma história da música universal segundo o olhar de um maestro brasileiro, artista que se envolveu, entre o erudito e o popular, com alguns dos movimentos musicais mais importantes do País.
Foi aluno de H.J. Koellreutter, introdutor por aqui do que era feito de mais moderno na Europa em matéria de música; com o tempo, resolveu ir para a fonte primária e, em Darmstadt, frequentou os cursos de verão que pautaram os caminhos da vanguarda nos anos 50 e 60.
De volta ao País, ajudou a criar o Festival Música Nova, assinando o manifesto que pedia "o compromisso com o atual, a releitura do passado como combustível do futuro e não como nostalgia, a compreensão do fenômeno artístico como parte da indústria cultural, a educação como meio único de preparar gerações para não se perderem no redemoinho do mundo moderno, a valorização do som não como uma nota de um sistema composicional, mas sim na criação de um homem-som".
No mesmo espírito, assinou o mais célebre arranjo de "Tropicália", de Caetano Veloso, marco inicial do tropicalismo, isso antes de assumir algumas das mais importantes instituições musicais do País, como o Municipal de São Paulo.
"A grande circulação de ideias no mundo atual nos oferece um imenso repertório de matérias-primas culturais para projetos como nunca antes na história", diz o maestro que, na entrevista a seguir, comenta o último século de produção musical — e pensa em caminhos para o que se inicia.
O QUE RESTOU DA MÚSICA?
"No artigo 'Da Belle Époque à Belle Merde', eu analisava a inversão de vetores artísticos e comportamentais no século 20. Ele teve início como um verdadeiro furacão de criatividade cultural. Com a liberação de costumes na década de 20, esse delírio se tornou ainda mais deslumbrante.
A tecnologia, ao contrário, não era levada a sério. Ford não conseguia financiamento para seu projeto de produção em linha de automóveis; os irmãos Lumière diziam que aquela engenhoca que projetava imagens em movimento na parede não tinha futuro; os irmãos Wright, um ano antes de Santos-Dumont levantar voo com o aparelho mais pesado que o ar, declaravam que 'levaria mil anos para que o ser humano pudesse sair e voltar ao chão com seus próprios meios'.
Já no fim do século 20, deu-se o contrário. As últimas décadas, na área artística, foram melancólicas. Desapareceram tendências, estilos, vanguardas, provocações, projetos coletivos de criação. Os compositores que mais se destacaram na música erudita ou se tornaram neorromânticos ou choramingões, beatos de diversas seitas ou religiões.
A tecnologia é que se tornou o grande barato. A pirotecnia tecnológica absorveu de tal forma as aspirações humanas, que ela se tornou, praticamente, lúdica. A grande indústria cultural manipula massas e para tal reduz o repertório a poucos modelitos para não perder a velocidade e a expansão do mercado."
O SÉCULO 20
"A ideia dos experimentalistas que seguiram Schoenberg era a de extinguir a linguagem tonal, típica do Ocidente, criar uma nova e, dentro dela, uma nova música.
Esse raciocínio funciona muito bem quando se trata de bens de consumo comuns. Dezenas de formas de energia propulsora se substituíram no século 20 e ninguém vai preferir a energia a vapor à energia a jato.
As tecnologias se substituem com facilidade sem causar traumas. Mas as coisas arraigadas na alma humana e que lhe dão prazer e estabilidade estética e emocional não podem ser substituídas com a facilidade com que se troca um tênis ou automóvel.
O projeto desses experimentalistas de libertar o som das impiedosas amarras da gramática do 'dó maior', porém, deu resultado. Hoje se usa o som com grande liberdade. Com qualquer tipo de sonoridade, dentro, próxima ou distante da linguagem tonal, pode-se fazer música sem problemas, desde que haja talento..."
TROPICÁLIA, HITLER, TOM, JERRY
"Há poucos dias eu ouvia um pequeno filete sonoro em um alto-falante distante e comecei a sentir calafrios fortes e incontroláveis. Passaram-se alguns segundos para que eu soubesse o motivo.
Aí, lembrei-me que aquela melodia era música que eu tocava ao violino numa de minhas primeiras audições públicas. A música vai primeiro à alma e depois à mente. Primeiro me emocionei. Depois entendi.
E exatamente por esse seu poder feiticeiro que ela foi usada no decorrer da história, para influenciar a mente humana. De Hitler a Tom & Jerry, do tropicalismo às missas de Palestrina na Capela Sistina, de Hollywood ao hip-hop, do rock à canção de ninar, a música sempre foi forte arma de alteração do comportamento humano.
No momento, porém, ela está sucumbindo ao massacre que os mecanismos que sua comercialização lhe impuseram. A música está saindo das mãos do criador e ficando na dos produtores. E estes não estão sabendo como lidar com o talento humano."
A COMPOSIÇÃO HOJE
"As novas ideias e uma nova música vão nascer dos esforços individuais, subterrâneos, marginais, como o daqueles meninos do Beco das Garrafas do Rio que criaram a bossa nova.
Temos de fazer a tecnologia atual voltar a trabalhar para a criatividade, pois o repertório de possibilidades sonoras é ilimitado. E a grande circulação de ideias no mundo atual nos oferece um imenso repertório de matérias-primas culturais para projetos como nunca antes na história."
domingo, 25 de janeiro de 2009
domingo, 18 de janeiro de 2009
Dietrich, Nat King Cole e Ella Fitzgerald no Othon Palace
Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo" de 18/01/2009, seção Urbe na "Revista da Folha"
O último suspiro do velho hotel
por Ranier Bragon
Foi num melancólico entardecer de domingo que, de mala nas mãos, entrei na recepção do imponente Othon Palace, no centro velho de São Paulo. Era junho e, como de hábito em fins de semana, a rua Líbero Badaró estava deserta, salvo um ou outro consórcio de sem-teto ao deus-dará.
Ficaria cinco meses hospedado no quarto 2.005, com bela vista do Anhangabaú, o "vale dos maus espíritos", e me tornaria testemunha involuntária do crepúsculo daquele que por anos foi um dos mais glamourosos hotéis da cidade.
Rubem Braga conta que certa vez alugou um apartamento em Paris e mandou desinfetá-lo de cima a baixo antes de saber que ali poderia ter morado Marcel Proust. Também rodei a chave no quarto 2.005 ignorante da história do velho prédio.
Inaugurado no final de 1954, o Othon viveu décadas áureas, mas padecia de uma lenta decadência iniciada havia anos. Embora o centro abrigue imperdíveis construções históricas, a vanguarda hoteleira se mudara dali.
A segurança na região, precária durante o dia, desaparecia junto com o sol. Administradores e funcionários se empenhavam em manter um padrão, mas tinham pela frente uma receita curta, 227 quartos e uma infraestrutura castigada por meio século.
A porta do meu 2.005, por exemplo, só abria "com jeito". Dos três elevadores, um funcionava. E o outrora famoso Challet Suisse, no 25º andar, carecia de clientes para provar o bom filé à Oswaldo Aranha.
Uma curiosidade: embora sua sisudez remetesse a cenários de "O Iluminado", estranhamente o Othon não aparece no fértil livro de lendas do centro velho. Mas registro que cruzei no elevador algumas vezes com uma noiva que seguia sempre para a igreja de Santo Antonio, a poucos passos dali. Em uma inacreditável falha jornalística, nunca perguntei aos funcionários quem diabos era ela.
Obrigado a cobrar uma diária que amenizava a fuga de clientes, mas não o sustentava, o hotel deu adeus ao último hóspede em novembro, atolado em dívida milionária. Hoje está à venda.
Voltei ao Othon no último dia 9, exatos 54 anos e dez dias depois da suntuosa inauguração que reunira a elite paulistana. As imensas portas, nunca antes fechadas, agora ostentam uma campainha do lado de fora. Lá dentro, o plim-plim ainda repousa em cima do balcão.
Dias antes, fora informado de que entre os hóspedes ilustres estivera Marlene Dietrich. Procurei-a sem sucesso nas velhas fotos do arquivo, em meio a abundantes instantâneos do carrancudo Costa e Silva.
No livro de ouro, mensagens de JK, Nat King Cole (ambas sem data) e uma de Ella Fitzgerald ("Thanks for a lovely stay", datada de 1960). Nenhuma da diva.
Saí de lá sem a prova definitiva, é verdade, mas agora faz sentido para mim o sutil aroma de cigarro que sentia naquele quarto e a estranha sensação de ouvir sussurros de "I Wish You Love" em noites frias (e não vinham de Costa e Silva, espero).
Como diria Rubem Braga, anotem aí, meus amigos: rua Líbero Badaró, 190, ap. 2.005. O endereço de Marlene Dietrich em São Paulo; e do Bragon!
— Ranier Bragon, 36, repórter da Sucursal de Brasília da Folha, é o colunista convidado desta edição; esteve em São Paulo entre junho e novembro de 2008 para a cobertura das eleições municipais. revista@grupofolha.com.br
O último suspiro do velho hotel
por Ranier Bragon
Foi num melancólico entardecer de domingo que, de mala nas mãos, entrei na recepção do imponente Othon Palace, no centro velho de São Paulo. Era junho e, como de hábito em fins de semana, a rua Líbero Badaró estava deserta, salvo um ou outro consórcio de sem-teto ao deus-dará.
Ficaria cinco meses hospedado no quarto 2.005, com bela vista do Anhangabaú, o "vale dos maus espíritos", e me tornaria testemunha involuntária do crepúsculo daquele que por anos foi um dos mais glamourosos hotéis da cidade.
Rubem Braga conta que certa vez alugou um apartamento em Paris e mandou desinfetá-lo de cima a baixo antes de saber que ali poderia ter morado Marcel Proust. Também rodei a chave no quarto 2.005 ignorante da história do velho prédio.
Inaugurado no final de 1954, o Othon viveu décadas áureas, mas padecia de uma lenta decadência iniciada havia anos. Embora o centro abrigue imperdíveis construções históricas, a vanguarda hoteleira se mudara dali.
A segurança na região, precária durante o dia, desaparecia junto com o sol. Administradores e funcionários se empenhavam em manter um padrão, mas tinham pela frente uma receita curta, 227 quartos e uma infraestrutura castigada por meio século.
A porta do meu 2.005, por exemplo, só abria "com jeito". Dos três elevadores, um funcionava. E o outrora famoso Challet Suisse, no 25º andar, carecia de clientes para provar o bom filé à Oswaldo Aranha.
Uma curiosidade: embora sua sisudez remetesse a cenários de "O Iluminado", estranhamente o Othon não aparece no fértil livro de lendas do centro velho. Mas registro que cruzei no elevador algumas vezes com uma noiva que seguia sempre para a igreja de Santo Antonio, a poucos passos dali. Em uma inacreditável falha jornalística, nunca perguntei aos funcionários quem diabos era ela.
Obrigado a cobrar uma diária que amenizava a fuga de clientes, mas não o sustentava, o hotel deu adeus ao último hóspede em novembro, atolado em dívida milionária. Hoje está à venda.
Voltei ao Othon no último dia 9, exatos 54 anos e dez dias depois da suntuosa inauguração que reunira a elite paulistana. As imensas portas, nunca antes fechadas, agora ostentam uma campainha do lado de fora. Lá dentro, o plim-plim ainda repousa em cima do balcão.
Dias antes, fora informado de que entre os hóspedes ilustres estivera Marlene Dietrich. Procurei-a sem sucesso nas velhas fotos do arquivo, em meio a abundantes instantâneos do carrancudo Costa e Silva.
No livro de ouro, mensagens de JK, Nat King Cole (ambas sem data) e uma de Ella Fitzgerald ("Thanks for a lovely stay", datada de 1960). Nenhuma da diva.
Saí de lá sem a prova definitiva, é verdade, mas agora faz sentido para mim o sutil aroma de cigarro que sentia naquele quarto e a estranha sensação de ouvir sussurros de "I Wish You Love" em noites frias (e não vinham de Costa e Silva, espero).
Como diria Rubem Braga, anotem aí, meus amigos: rua Líbero Badaró, 190, ap. 2.005. O endereço de Marlene Dietrich em São Paulo; e do Bragon!
— Ranier Bragon, 36, repórter da Sucursal de Brasília da Folha, é o colunista convidado desta edição; esteve em São Paulo entre junho e novembro de 2008 para a cobertura das eleições municipais. revista@grupofolha.com.br
domingo, 11 de janeiro de 2009
Em livro, as capas do jazz
Texto publicado no jornal "O Estado de S.Paulo" de 11/janeiro/2009, "Caderno2"
O som que era encapado para brilhar
por Jotabê Medeiros
Livro Jazz Covers, organizado pelo colecionador português Joaquim Paulo, reconta história do gênero do ponto de vista gráfico
Lançado no final do ano pela prestigiosa editora alemã Taschen, o livro Jazz Covers é um fenômeno. Esgotou rapidamente a primeira edição e tem edição importada em espanhol à venda no Brasil (Livraria Cultura, R$ 193).
Organizado pelo produtor, editor radialista e colecionador de discos português Joaquim Paulo, o livro tem 496 páginas e reproduz 696 capas de álbuns de jazz dos anos 40 aos 90.
O ponto de partida da pesquisa foi a própria coleção pessoal de Joaquim Paulo, fundador da editora Mad About Records, e que possui cerca de 25 mil discos.
Além da seleção, o produtor — que vive pelo mundo garimpando preciosidades da música — ouviu testemunhos de personagens-chave da produção musical jazzística, como Rudy Van Gelder (engenheiro de som que gravou álbuns para a Blue Note e para a Prestige), o produtor e trompetista Creed Taylor e o designer Bob Ciano. Joaquim apresentou o projeto ao editor Benedict Taschen, que abraçou o projeto e viabilizou a edição.
Há discos de todo o mundo no volume (Argentina, Brasil, Polônia, Romênia e Reino Unido), muitos jamais editados em CD.
Na galeria de discos escolhidos estão álbuns de mitos como Miles Davis, Chet Baker, Thelonious Monk, John Coltrane, Ornette Coleman, Count Basie, e ainda Claus Ogerman, Vince Guaraldi, Moacir Santos e Maurice Vander.
Para fechar, DJs escolhem os seus Top 10, gente como Gilles Peterson, Ed Motta, King Britt ou Rainer Trüby. Joaquim Paulo concedeu entrevista ao Estado.
A sua intenção com esse livro é ressaltar o trabalho gráfico das capas ou há também orientação musical?
Tive esta ideia do livro há muitos, muitos anos. Pela minha formação, incompleta, na área das artes, por desde sempre me interessar por design, eu olho para um disco de vinil também como objeto de arte.
O jazz desde sempre foi uma área musical que produziu capas lindíssimas e esteve sempre ligado a grandes ilustradores como o Jim Flora, grandes designers como o Reid Miles ou fotógrafos como o Francis Wolff, Chuck Stewart ou o grande William Claxton.
O jazz sempre teve essa imagem de grande glamour, estilo, a pose "cool". Portanto, desde sempre que pego num vinil de jazz tenho o prazer físico e mental de olhar para a capa, sentir o cheiro, ler as liner-notes, ver quem desenhou ou fotografou e procurar mais. O jazz em vinil, para mim, é um objeto de arte.
Depois, há o meu amor ao jazz. É a minha música. A primeira coisa que faço quando chego em casa é pegar um disco e colocar no meu toca-discos. O meu iPod é o meu melhor amigo. A música está sempre na minha vida.
Com este livro procurei prestar uma homenagem a quem construiu o jazz, musical e graficamente. Este é um projeto muito pessoal. São as minhas escolhas. Não pretendi fazer uma enciclopédia ou algo do gênero. Tive a grande felicidade de a Taschen me ter dado essa liberdade.
A seu ver, o que revelam as capas dos discos de jazz nesses 70 anos que o sr. abarca? Uma espécie de "história social do jazz"?
Sem dúvida. Grande parte das capas que incluí dos anos 70 são de editoras underground, na sua maior parte altamente politizadas ligadas a movimentos cívicos.
Havia um grande relação com os tempos conturbados dos anos 70, principalmente nos Estados Unidos.
Algumas editoras como a Strata East, a Black Jazz estavam intimamente ligadas à contracultura americana, e em alguns dos casos com ligações diretas a movimentos como os Black Panthers. Graficamente esses discos são também de uma grande força e impacto visual.
Pessoalmente, qual é a sua capa preferida, e por quê?
A minha capa e disco preferido é o A Love Supreme do John Coltrane. A música é de uma espiritualidade quase religiosa. É um disco que pacifica, que liberta. E acho que a capa é a captação certeira do estado de espírito do John Coltrane nessa fase da sua vida.
Depois de ter passado alguns anos a combater demônios internos, problemas com drogas, ele finalmente estava em paz. Gosto do jeito como a forma capta o olhar melancólico e profundo do John Coltrane. É uma capa de disco comovente.
Os comentários ao estilo verbete que o sr. faz nas páginas do livro muitas vezes traem uma visão crítica. Tem exercido o ofício de crítico de jazz?
Nunca quis fazer crítica de jazz com este livro. Nunca fiz. A minha atividade profissional foi ligada ao rádio durante 22 anos. Agora estou noutro percurso profissional através da minha editora Mad About Records especializada em reedições de jazz, soul-funk e música brasileira. Enfim, minhas grandes paixões musicais.
Como tem sido a recepção a esse livro nos Estados Unidos, berço do jazz?
Excelente. Recebi algumas críticas muito carinhosas de gente que respeito muito, como o Michael Cuscuna ou Ashley Khan. E a própria vendagem do livro é um indicativo da boa acolhida.
Como um admirador do gênero, o sr. poderia me dizer o que acha do jazz que se faz hoje? Acha que o gênero está estagnado?
De forma alguma. Sou atento ao que se produz hoje em dia.
Não é fácil ser músico de jazz nos dias de hoje, mas isso me parece não ser uma limitação nem impedimento de inovação. Aliás, acredito que a dificuldade é sempre motivadora para as grandes revoluções.
Mesmo em Portugal , um país pequeno e com um mercado muito difícil, existem editoras, como por exemplo a Clean Feed, que faz um trabalho notável. Abriu-se ao mundo e hoje é uma das editoras de referência a nível mundial.
Do novo jazz, basta ouvir músicos como Ken Vandermark para percebermos como está viva esta música.
O sr. disse, ao jornal português Público, que boa parte dessas capas não teve a participação dos músicos no conceito e na confecção, e que muitas vezes eram boladas por estagiários de agência de publicidade. É verdade?
O que eu contei ao jornal Público foi que perdi muito tempo a tentar descobrir quem desenhava as capas da editora Impulse!, uma das minhas preferidas, musical e graficamente. Todos os discos eram assinados com Robert Flynn/Viceroi. Nunca descobri quem era. Nem o próprio fundador da Impulse!, o senhor Creed Taylor, fazia ideia de quem era.
Mais tarde, confirmaram-me que Viceroi era uma companhia de design e as capas da Impulse! eram entregues a quem estivesse mais disponível na empresa. O que é estranho, pois a Impulse! é uma editora com uma linha gráfica muito marcada, muito personalizada.
O som que era encapado para brilhar
por Jotabê Medeiros
Livro Jazz Covers, organizado pelo colecionador português Joaquim Paulo, reconta história do gênero do ponto de vista gráfico
Lançado no final do ano pela prestigiosa editora alemã Taschen, o livro Jazz Covers é um fenômeno. Esgotou rapidamente a primeira edição e tem edição importada em espanhol à venda no Brasil (Livraria Cultura, R$ 193).
Organizado pelo produtor, editor radialista e colecionador de discos português Joaquim Paulo, o livro tem 496 páginas e reproduz 696 capas de álbuns de jazz dos anos 40 aos 90.
O ponto de partida da pesquisa foi a própria coleção pessoal de Joaquim Paulo, fundador da editora Mad About Records, e que possui cerca de 25 mil discos.
Além da seleção, o produtor — que vive pelo mundo garimpando preciosidades da música — ouviu testemunhos de personagens-chave da produção musical jazzística, como Rudy Van Gelder (engenheiro de som que gravou álbuns para a Blue Note e para a Prestige), o produtor e trompetista Creed Taylor e o designer Bob Ciano. Joaquim apresentou o projeto ao editor Benedict Taschen, que abraçou o projeto e viabilizou a edição.
Há discos de todo o mundo no volume (Argentina, Brasil, Polônia, Romênia e Reino Unido), muitos jamais editados em CD.
Na galeria de discos escolhidos estão álbuns de mitos como Miles Davis, Chet Baker, Thelonious Monk, John Coltrane, Ornette Coleman, Count Basie, e ainda Claus Ogerman, Vince Guaraldi, Moacir Santos e Maurice Vander.
Para fechar, DJs escolhem os seus Top 10, gente como Gilles Peterson, Ed Motta, King Britt ou Rainer Trüby. Joaquim Paulo concedeu entrevista ao Estado.
A sua intenção com esse livro é ressaltar o trabalho gráfico das capas ou há também orientação musical?
Tive esta ideia do livro há muitos, muitos anos. Pela minha formação, incompleta, na área das artes, por desde sempre me interessar por design, eu olho para um disco de vinil também como objeto de arte.
O jazz desde sempre foi uma área musical que produziu capas lindíssimas e esteve sempre ligado a grandes ilustradores como o Jim Flora, grandes designers como o Reid Miles ou fotógrafos como o Francis Wolff, Chuck Stewart ou o grande William Claxton.
O jazz sempre teve essa imagem de grande glamour, estilo, a pose "cool". Portanto, desde sempre que pego num vinil de jazz tenho o prazer físico e mental de olhar para a capa, sentir o cheiro, ler as liner-notes, ver quem desenhou ou fotografou e procurar mais. O jazz em vinil, para mim, é um objeto de arte.
Depois, há o meu amor ao jazz. É a minha música. A primeira coisa que faço quando chego em casa é pegar um disco e colocar no meu toca-discos. O meu iPod é o meu melhor amigo. A música está sempre na minha vida.
Com este livro procurei prestar uma homenagem a quem construiu o jazz, musical e graficamente. Este é um projeto muito pessoal. São as minhas escolhas. Não pretendi fazer uma enciclopédia ou algo do gênero. Tive a grande felicidade de a Taschen me ter dado essa liberdade.
A seu ver, o que revelam as capas dos discos de jazz nesses 70 anos que o sr. abarca? Uma espécie de "história social do jazz"?
Sem dúvida. Grande parte das capas que incluí dos anos 70 são de editoras underground, na sua maior parte altamente politizadas ligadas a movimentos cívicos.
Havia um grande relação com os tempos conturbados dos anos 70, principalmente nos Estados Unidos.
Algumas editoras como a Strata East, a Black Jazz estavam intimamente ligadas à contracultura americana, e em alguns dos casos com ligações diretas a movimentos como os Black Panthers. Graficamente esses discos são também de uma grande força e impacto visual.
Pessoalmente, qual é a sua capa preferida, e por quê?
A minha capa e disco preferido é o A Love Supreme do John Coltrane. A música é de uma espiritualidade quase religiosa. É um disco que pacifica, que liberta. E acho que a capa é a captação certeira do estado de espírito do John Coltrane nessa fase da sua vida.
Depois de ter passado alguns anos a combater demônios internos, problemas com drogas, ele finalmente estava em paz. Gosto do jeito como a forma capta o olhar melancólico e profundo do John Coltrane. É uma capa de disco comovente.
Os comentários ao estilo verbete que o sr. faz nas páginas do livro muitas vezes traem uma visão crítica. Tem exercido o ofício de crítico de jazz?
Nunca quis fazer crítica de jazz com este livro. Nunca fiz. A minha atividade profissional foi ligada ao rádio durante 22 anos. Agora estou noutro percurso profissional através da minha editora Mad About Records especializada em reedições de jazz, soul-funk e música brasileira. Enfim, minhas grandes paixões musicais.
Como tem sido a recepção a esse livro nos Estados Unidos, berço do jazz?
Excelente. Recebi algumas críticas muito carinhosas de gente que respeito muito, como o Michael Cuscuna ou Ashley Khan. E a própria vendagem do livro é um indicativo da boa acolhida.
Como um admirador do gênero, o sr. poderia me dizer o que acha do jazz que se faz hoje? Acha que o gênero está estagnado?
De forma alguma. Sou atento ao que se produz hoje em dia.
Não é fácil ser músico de jazz nos dias de hoje, mas isso me parece não ser uma limitação nem impedimento de inovação. Aliás, acredito que a dificuldade é sempre motivadora para as grandes revoluções.
Mesmo em Portugal , um país pequeno e com um mercado muito difícil, existem editoras, como por exemplo a Clean Feed, que faz um trabalho notável. Abriu-se ao mundo e hoje é uma das editoras de referência a nível mundial.
Do novo jazz, basta ouvir músicos como Ken Vandermark para percebermos como está viva esta música.
O sr. disse, ao jornal português Público, que boa parte dessas capas não teve a participação dos músicos no conceito e na confecção, e que muitas vezes eram boladas por estagiários de agência de publicidade. É verdade?
O que eu contei ao jornal Público foi que perdi muito tempo a tentar descobrir quem desenhava as capas da editora Impulse!, uma das minhas preferidas, musical e graficamente. Todos os discos eram assinados com Robert Flynn/Viceroi. Nunca descobri quem era. Nem o próprio fundador da Impulse!, o senhor Creed Taylor, fazia ideia de quem era.
Mais tarde, confirmaram-me que Viceroi era uma companhia de design e as capas da Impulse! eram entregues a quem estivesse mais disponível na empresa. O que é estranho, pois a Impulse! é uma editora com uma linha gráfica muito marcada, muito personalizada.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Sobre blogs e leitores
Texto publicado na "Folha de S.Paulo" de 9/janeiro/2009, Caderno "Cotidiano"
Bondão da língua solta
por Barbara Gancia
Não importa se a fonte é respeitável, se as informações foram checadas ou se Kaddafi se escreve com "k" ou "q"
SOU DO TIPO QUE chega atrasada a tudo que é novidade tecnológica. Nos anos 90, quando a Folha fez a transição da máquina de escrever para o computador, eu resisti até onde deu. E só me animei a adotar o micro quando percebi que a minha era a única máquina que ainda fazia barulho em meio a dezenas de monitores mudos na Redação.
Com o CD, eu também tive de me acostumar na marra. Acabei despedindo-me dos discos e das insuportáveis fitas cassete quando já não estavam mais disponíveis no mercado. E só adquiri um DVD player depois de muita persuasão, na época em que minha empregada comprou o aparelho dela. Sendo a obtusa eletrônica que sou, não chega a ser uma surpresa que eu só tenha começado um blog no último dia de julho de 2008.
Sempre ouvia dizer de todo mundo (e seu vizinho) que tem blog que escrever várias vezes ao dia é um processo escravizante, em que você fica por demais exposto às cobranças dos leitores. Um pouco é verdade, meu dia está bem mais curto do que era antes. Mas hoje eu já não devo mais nada em matéria de atualidade.
Acabei descobrindo um outro tipo de leitor, menos exigente que o do jornal ou do rádio. Geralmente um fanático pela informalidade da internet, ele tem especial interesse pela novidade. Não importa muito para ele se a fonte da notícia é respeitável, se as informações foram checadas ou se Kaddafi se escreve com "k" ou com "q".
O negócio do cliente cibernético é descobrir antes dos outros o filme mais engraçado do momento no YouTube ou o texto mais inortodoxo sobre os bombardeios na faixa de Gaza. Isto feito, o que conta é a rapidez com a qual ele dissemina o seu achado entre os outros internautas. Ainda estou me acostumando a essa avidez pelo exótico, mas já começo a percorrer os mesmos caminhos que eles trilham. Hoje, visito um sem número de blogs de colegas todos os dias, dos mais óbvios aos mais inconsequentes, como o Kibe Loco, do genial Antonio Tabet, o blog do Bonitão ou o Gordo Nerd.
Você nunca ouviu falar, nobre leitor? Pois eles são hits absolutos entre a geração que já sabia digitar o próprio nome antes de aprender a dizer "obrigada". E usam de uma linguagem que, nos bons tempos, a gente só ouvia em oficina mecânica de beira de estrada. Os blogs dos EUA são ainda mais ácidos.
Perez Hilton, o blogueiro espalha-fofocas de celebridades, que atrai mais de 9 milhões de visitas ao dia, não vê nada demais em publicar uma foto de Tom Cruise com uma imagem fálica desenhada sobre as calças do ator. Enquanto escrevo este texto, em seu blog há um post intitulado "Cokate to make another coke baby?", sobre a possível gravidez da modelo Kate Moss, que já foi flagrada em vídeo captado por telefone celular consumindo cocaína.
Perez, cujo nome verdadeiro é Mario Lavandeira, já sofreu vários processos, mas nunca foi obrigado a indenizar ninguém. No mais recente, ele levou a melhor sobre a DJ Samantha Ronson, namorada da atriz Lindsay Lohan, que acabou tendo de arcar com as custas do processo.
Não sei bem qual a próxima parada desse bonde desgovernado, mas uma coisa é certa: não dá para ficar dormindo no ponto.
Bondão da língua solta
por Barbara Gancia
Não importa se a fonte é respeitável, se as informações foram checadas ou se Kaddafi se escreve com "k" ou "q"
SOU DO TIPO QUE chega atrasada a tudo que é novidade tecnológica. Nos anos 90, quando a Folha fez a transição da máquina de escrever para o computador, eu resisti até onde deu. E só me animei a adotar o micro quando percebi que a minha era a única máquina que ainda fazia barulho em meio a dezenas de monitores mudos na Redação.
Com o CD, eu também tive de me acostumar na marra. Acabei despedindo-me dos discos e das insuportáveis fitas cassete quando já não estavam mais disponíveis no mercado. E só adquiri um DVD player depois de muita persuasão, na época em que minha empregada comprou o aparelho dela. Sendo a obtusa eletrônica que sou, não chega a ser uma surpresa que eu só tenha começado um blog no último dia de julho de 2008.
Sempre ouvia dizer de todo mundo (e seu vizinho) que tem blog que escrever várias vezes ao dia é um processo escravizante, em que você fica por demais exposto às cobranças dos leitores. Um pouco é verdade, meu dia está bem mais curto do que era antes. Mas hoje eu já não devo mais nada em matéria de atualidade.
Acabei descobrindo um outro tipo de leitor, menos exigente que o do jornal ou do rádio. Geralmente um fanático pela informalidade da internet, ele tem especial interesse pela novidade. Não importa muito para ele se a fonte da notícia é respeitável, se as informações foram checadas ou se Kaddafi se escreve com "k" ou com "q".
O negócio do cliente cibernético é descobrir antes dos outros o filme mais engraçado do momento no YouTube ou o texto mais inortodoxo sobre os bombardeios na faixa de Gaza. Isto feito, o que conta é a rapidez com a qual ele dissemina o seu achado entre os outros internautas. Ainda estou me acostumando a essa avidez pelo exótico, mas já começo a percorrer os mesmos caminhos que eles trilham. Hoje, visito um sem número de blogs de colegas todos os dias, dos mais óbvios aos mais inconsequentes, como o Kibe Loco, do genial Antonio Tabet, o blog do Bonitão ou o Gordo Nerd.
Você nunca ouviu falar, nobre leitor? Pois eles são hits absolutos entre a geração que já sabia digitar o próprio nome antes de aprender a dizer "obrigada". E usam de uma linguagem que, nos bons tempos, a gente só ouvia em oficina mecânica de beira de estrada. Os blogs dos EUA são ainda mais ácidos.
Perez Hilton, o blogueiro espalha-fofocas de celebridades, que atrai mais de 9 milhões de visitas ao dia, não vê nada demais em publicar uma foto de Tom Cruise com uma imagem fálica desenhada sobre as calças do ator. Enquanto escrevo este texto, em seu blog há um post intitulado "Cokate to make another coke baby?", sobre a possível gravidez da modelo Kate Moss, que já foi flagrada em vídeo captado por telefone celular consumindo cocaína.
Perez, cujo nome verdadeiro é Mario Lavandeira, já sofreu vários processos, mas nunca foi obrigado a indenizar ninguém. No mais recente, ele levou a melhor sobre a DJ Samantha Ronson, namorada da atriz Lindsay Lohan, que acabou tendo de arcar com as custas do processo.
Não sei bem qual a próxima parada desse bonde desgovernado, mas uma coisa é certa: não dá para ficar dormindo no ponto.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Blogs musicais
Texto publicado na "Folha de S.Paulo" de 6/janeiro/2009, Caderno "Ilustrada"
NA REDE
Sinfonia de blogs
por Irineu Franco Perpetuo
Colaboração para a Folha
Música erudita gratuita ganha espaço na web com a difusão de páginas ambiciosas, temáticas e com discurso antipirataria
Depois do YouTube, das rádios via web e das redes de compartilhamento peer-to-peer, agora a blogosfera também está sendo usada como meio de difusão gratuita de música erudita.
Blogueiros de todo o planeta estão compartilhando suas coleções de discos, colocando-as para download.
Não é preciso ser um expert para conseguir baixar os CDs — basta clicar no link para download, que remete a um servidor no qual os discos estão armazenados. A única dificuldade é que eles normalmente chegam em formato .rar, compactado. Para descompactá-los, é só baixar o 7-zip, um programa gratuito, desenvolvido como software livre, mas que roda em Windows, e que pode ser obtido em http://www.7-zip.org/.
Um dos mais ambiciosos blogs nesta área se chama, sugestivamente, Libros Libres Música Libre (http://libroslibresmusicalibre.blogspot.com/). Gerenciado por um coletivo que reverencia a memória do educador mexicano Rubén Vizcaíno Valencia, o blog disponibiliza para download gratuito as obras completas de Bach e Beethoven, integrais sinfônicas de Mahler, Bruckner, Tchaikovski e Nielsen, a música de câmara de Brahms e todo o legado fonográfico da soprano Maria Callas, entre outras preciosidades.
Há blogs que se centram em áreas de interesse temático. O italiano Brainle de Champaigne (http://passacaille.blogspot.com/), por exemplo, traz vasto acervo de música medieval, renascentista e barroca, enquanto o argentino Il Canto Sospeso (http://ilcantosospeso.blogspot.com/) está centrado na música dos séculos 20 e 21.
No Brasil, vale especial menção PQP Bach (http://pqpbach.opensadorselvagem.org/), um blog bem-humorado, com diversos colaboradores, textos sobre compositores e intérpretes e oferta bastante diversificada; e o Brazilian Concert Music (http://musicabrconcerto.blogspot.com/), exclusivamente focado na música erudita de autores nacionais, levando ao ar muitos discos que não foram lançados comercialmente e até itens que jamais mereceram edição em CD.
"Caráter cultural"
Todos esses blogs dizem não promover a pirataria, pois não cobram pelo acesso aos discos. Com algumas variações, suas páginas de entrada costumam dizer mais ou menos a mesma coisa: que o caráter dos blogs é meramente cultural e de divulgação; e que, tendo gostado do que baixaram, os internautas devem sempre comprar os CDs originais, cuja qualidade de áudio é superior à dos downloads.
Blogs como PQP Bach e Music Is the Key (http://orchestralworks.blogspot.com/) colocam, ao lado da opção para download gratuito, um link para a compra do CD na loja virtual Amazon (http://www.amazon.com/).
E a página de entrada do Brazilian Concert Music pede a quem se sentir ofendido ou prejudicado com o conteúdo de alguma postagem que avise por e-mail os administradores do blog, que se comprometem a tirá-la do ar.
Não é impossível que na origem de tal precaução esteja o destino do Sombarato, blog especializado em música popular brasileira, com um acervo superior a 2.000 títulos, que teve mais de milhões de acessos em um ano e meio, antes de ser tirado do ar, em setembro do ano passado, pelo Google, devido a ação judicial da gravadora Biscoito Fino.
A base jurídica para tirar o blog do ar foi o Digital Millennium Copyright Act (DMCA), aprovado em 1998, nos Estados Unidos.
Entre outras medidas, o DMCA permite que detentores de direitos autorais solicitem aos provedores de serviços on-line que bloqueiem o acesso ou retirem de seus sistemas conteúdos que violem direitos autorais.
NA REDE
Sinfonia de blogs
por Irineu Franco Perpetuo
Colaboração para a Folha
Música erudita gratuita ganha espaço na web com a difusão de páginas ambiciosas, temáticas e com discurso antipirataria
Depois do YouTube, das rádios via web e das redes de compartilhamento peer-to-peer, agora a blogosfera também está sendo usada como meio de difusão gratuita de música erudita.
Blogueiros de todo o planeta estão compartilhando suas coleções de discos, colocando-as para download.
Não é preciso ser um expert para conseguir baixar os CDs — basta clicar no link para download, que remete a um servidor no qual os discos estão armazenados. A única dificuldade é que eles normalmente chegam em formato .rar, compactado. Para descompactá-los, é só baixar o 7-zip, um programa gratuito, desenvolvido como software livre, mas que roda em Windows, e que pode ser obtido em http://www.7-zip.org/.
Um dos mais ambiciosos blogs nesta área se chama, sugestivamente, Libros Libres Música Libre (http://libroslibresmusicalibre.blogspot.com/). Gerenciado por um coletivo que reverencia a memória do educador mexicano Rubén Vizcaíno Valencia, o blog disponibiliza para download gratuito as obras completas de Bach e Beethoven, integrais sinfônicas de Mahler, Bruckner, Tchaikovski e Nielsen, a música de câmara de Brahms e todo o legado fonográfico da soprano Maria Callas, entre outras preciosidades.
Há blogs que se centram em áreas de interesse temático. O italiano Brainle de Champaigne (http://passacaille.blogspot.com/), por exemplo, traz vasto acervo de música medieval, renascentista e barroca, enquanto o argentino Il Canto Sospeso (http://ilcantosospeso.blogspot.com/) está centrado na música dos séculos 20 e 21.
No Brasil, vale especial menção PQP Bach (http://pqpbach.opensadorselvagem.org/), um blog bem-humorado, com diversos colaboradores, textos sobre compositores e intérpretes e oferta bastante diversificada; e o Brazilian Concert Music (http://musicabrconcerto.blogspot.com/), exclusivamente focado na música erudita de autores nacionais, levando ao ar muitos discos que não foram lançados comercialmente e até itens que jamais mereceram edição em CD.
"Caráter cultural"
Todos esses blogs dizem não promover a pirataria, pois não cobram pelo acesso aos discos. Com algumas variações, suas páginas de entrada costumam dizer mais ou menos a mesma coisa: que o caráter dos blogs é meramente cultural e de divulgação; e que, tendo gostado do que baixaram, os internautas devem sempre comprar os CDs originais, cuja qualidade de áudio é superior à dos downloads.
Blogs como PQP Bach e Music Is the Key (http://orchestralworks.blogspot.com/) colocam, ao lado da opção para download gratuito, um link para a compra do CD na loja virtual Amazon (http://www.amazon.com/).
E a página de entrada do Brazilian Concert Music pede a quem se sentir ofendido ou prejudicado com o conteúdo de alguma postagem que avise por e-mail os administradores do blog, que se comprometem a tirá-la do ar.
Não é impossível que na origem de tal precaução esteja o destino do Sombarato, blog especializado em música popular brasileira, com um acervo superior a 2.000 títulos, que teve mais de milhões de acessos em um ano e meio, antes de ser tirado do ar, em setembro do ano passado, pelo Google, devido a ação judicial da gravadora Biscoito Fino.
A base jurídica para tirar o blog do ar foi o Digital Millennium Copyright Act (DMCA), aprovado em 1998, nos Estados Unidos.
Entre outras medidas, o DMCA permite que detentores de direitos autorais solicitem aos provedores de serviços on-line que bloqueiem o acesso ou retirem de seus sistemas conteúdos que violem direitos autorais.
Música & religiosidade
Texto publicado na "Folha de S.Paulo" de 6/janeiro/2009, Caderno "Cotidiano"
O caos e a beleza
por Rubem Alves
A minha alma, sem que tivesse sido ensinada, sabia distinguir muito bem o ruído caótico e sem sentido dos sons da beleza
QUANDO EU ERA seminarista gostava de dormir ouvindo música. Eu tinha um radinho de válvulas e a música vinha sempre misturada com os ruídos da estática. Eu preferia a música às rezas. Se eu fosse Deus, eu também preferiria.
Na verdade eu já não rezava mais por duas razões.
Primeiro, as aulas de teologia, pela mediocridade, me fizeram pensar — e o pensamento é um perigoso adversário das ideias religiosas. Eu nem sabia se ainda acreditava em Deus.
Segundo, se Deus existia, valia o dito pelo salmista e por Jesus de que, antes que eu falasse qualquer coisa, Deus já sabia o que eu iria falar; o que tornava desnecessária a minha fala.
Eu estava mais interessado em ouvir a divina beleza da música que em repetir as minhas mesmices que deveriam dar um tédio infinito ao Criador.
Se Deus existe, a beleza é o seu jeito de se comunicar com os mortais.
Disso sabem os poetas, como é o caso da Helena Kolody, que escreveu:
"Rezam meus olhos quando contemplo a beleza. A beleza é a sombra de Deus no mundo".
Ela poderia ter sido uma amiga da solitária Emily Dickinson, que sentia igual. "Alguns guardam o domingo indo à igreja / Eu o guardo ficando em casa / Tendo um sabiá como cantor / E um pomar por santuário / E, ao invés do repicar dos sinos na igreja / Nosso pássaro canta na palmeira / É Deus que está pregando, pregador admirável / E o seu sermão é sempre curto. Assim, ao invés de chegar ao céu, só no final eu o encontro o tempo todo no quintal."
Às vezes, Deus se revela como pássaro...
Deitei-me e liguei o radinho. Era uma noite de mau tempo, tempestade. O ar estava carregado de eletricidade — que entrava no rádio sob a forma de ruídos, estática, assobios. Era um caos sem sentido. Mas não perdi a esperança e continuei a procurar.
De repente — a estática dominava a audição — ouvi lá no fundo uma música que muito amo: o concerto para piano e orquestra n.º 1, de Chopin. Fiquei ali lutando contra a estática: 90% de ruído caótico, 10% de beleza.
Eu não entendo esse mistério: todos os sons, estática e música chegavam juntos, misturados. Mas a minha alma, sem que tivesse sido ensinada, sabia distinguir muito bem o ruído caótico e sem sentido dos sons da beleza, que me comoviam.
Minha alma sabia que a ordem morava no meio do caos e ela estava disposta a suportar o horrendo do caos pela beleza quase inaudível que existia no meio dele.
Aí me veio uma ideia sob a forma de uma pergunta que me pareceu uma revelação: a vida toda não será assim, uma luta contra o caos sem sentido em busca de uma beleza escondida? E essa busca da beleza, não será ela a essência daquilo a que se poderia dar o nome de "sentimento religioso?"
"Sentimento religioso", como eu o entendo, nada tem a ver com ideias sobre o outro mundo. É algo parecido com a experiência que se tem ao ouvir a "valsinha" do Chico, ou a primeira balada de Chopin. Uma sonata de Mozart... Um crítico musical poderia escrever um livro inteiro analisando e descrevendo a sonata. Mas, ao final da leitura do livro, o leitor continuaria sem nada saber sobre a sua beleza.
A beleza está além das palavras, exceto quando as palavras se transformam em música, como na poesia.
Ficou aquela imagem. Uma melodia linda se faz ouvir em meio aos horrores da vida. Ainda que seja uma "marcha fúnebre"...
O caos e a beleza
por Rubem Alves
A minha alma, sem que tivesse sido ensinada, sabia distinguir muito bem o ruído caótico e sem sentido dos sons da beleza
QUANDO EU ERA seminarista gostava de dormir ouvindo música. Eu tinha um radinho de válvulas e a música vinha sempre misturada com os ruídos da estática. Eu preferia a música às rezas. Se eu fosse Deus, eu também preferiria.
Na verdade eu já não rezava mais por duas razões.
Primeiro, as aulas de teologia, pela mediocridade, me fizeram pensar — e o pensamento é um perigoso adversário das ideias religiosas. Eu nem sabia se ainda acreditava em Deus.
Segundo, se Deus existia, valia o dito pelo salmista e por Jesus de que, antes que eu falasse qualquer coisa, Deus já sabia o que eu iria falar; o que tornava desnecessária a minha fala.
Eu estava mais interessado em ouvir a divina beleza da música que em repetir as minhas mesmices que deveriam dar um tédio infinito ao Criador.
Se Deus existe, a beleza é o seu jeito de se comunicar com os mortais.
Disso sabem os poetas, como é o caso da Helena Kolody, que escreveu:
"Rezam meus olhos quando contemplo a beleza. A beleza é a sombra de Deus no mundo".
Ela poderia ter sido uma amiga da solitária Emily Dickinson, que sentia igual. "Alguns guardam o domingo indo à igreja / Eu o guardo ficando em casa / Tendo um sabiá como cantor / E um pomar por santuário / E, ao invés do repicar dos sinos na igreja / Nosso pássaro canta na palmeira / É Deus que está pregando, pregador admirável / E o seu sermão é sempre curto. Assim, ao invés de chegar ao céu, só no final eu o encontro o tempo todo no quintal."
Às vezes, Deus se revela como pássaro...
Deitei-me e liguei o radinho. Era uma noite de mau tempo, tempestade. O ar estava carregado de eletricidade — que entrava no rádio sob a forma de ruídos, estática, assobios. Era um caos sem sentido. Mas não perdi a esperança e continuei a procurar.
De repente — a estática dominava a audição — ouvi lá no fundo uma música que muito amo: o concerto para piano e orquestra n.º 1, de Chopin. Fiquei ali lutando contra a estática: 90% de ruído caótico, 10% de beleza.
Eu não entendo esse mistério: todos os sons, estática e música chegavam juntos, misturados. Mas a minha alma, sem que tivesse sido ensinada, sabia distinguir muito bem o ruído caótico e sem sentido dos sons da beleza, que me comoviam.
Minha alma sabia que a ordem morava no meio do caos e ela estava disposta a suportar o horrendo do caos pela beleza quase inaudível que existia no meio dele.
Aí me veio uma ideia sob a forma de uma pergunta que me pareceu uma revelação: a vida toda não será assim, uma luta contra o caos sem sentido em busca de uma beleza escondida? E essa busca da beleza, não será ela a essência daquilo a que se poderia dar o nome de "sentimento religioso?"
"Sentimento religioso", como eu o entendo, nada tem a ver com ideias sobre o outro mundo. É algo parecido com a experiência que se tem ao ouvir a "valsinha" do Chico, ou a primeira balada de Chopin. Uma sonata de Mozart... Um crítico musical poderia escrever um livro inteiro analisando e descrevendo a sonata. Mas, ao final da leitura do livro, o leitor continuaria sem nada saber sobre a sua beleza.
A beleza está além das palavras, exceto quando as palavras se transformam em música, como na poesia.
Ficou aquela imagem. Uma melodia linda se faz ouvir em meio aos horrores da vida. Ainda que seja uma "marcha fúnebre"...
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Música & marketing
Texto publicado na "Folha de S.Paulo" de 5/janeiro/2009, Caderno "The New York Times"
Nova revolução pop: marketing de produtos
por Jon Pareles — Ensaio, "The New York Times"
Em “Creator”, a faixa mais crua do álbum de estréia e auto-intitulado de Santogold, a cantora Santi White gaba-se: “Sou uma criadora/ A emoção é fazer acontecer/ As regras que eu rompo me colocam no radar”.
É um manifesto boêmio franco, ousado e atraente, ou pelo menos era para mim, até que apareceu em um comercial de cerveja. E em outro de gel para cabelo.
Acontece que a rebelde rompedora de regras é apenas mais uma marqueteira bem-remunerada. A revista “Billboard” relatou que três quartos do excelente álbum de Santogold já foram licenciados para comerciais, videogames e trilhas sonoras, e a própria White aparece em uma publicidade, cantando para tênis. Ela claramente decidiu que ligar sua música a outras agendas mais mercenárias é seu caminho mais direto para aparecer.
Eu sei que preciso me acostumar. Afinal, essa é a realidade do setor musical do século 21. Vender discos para consumidores como obras de arte caras a ser apreciadas por si sós é um empreendimento reduzido hoje, quando há cópias livres à vontade na web.
Enquanto as pessoas ainda amam a música o suficiente para encontrá-la, colecioná-la e discuti-la, muitas não vêem motivo para pagar por música. A solução prática que surge é deixar que a música venda algo concreto: shows, camisetas, anúncios nos sites ou marcas.
Os músicos precisam comer e querem ser ouvidos, mesmo que isso signifique acompanhar um produto ou o videogame. Por que esperar o pinga-pinga dos royalties dos discos se as taxas de licenciamento são pagas adiantadas e de uma vez? É uma parte do sistema de regulamentação dos direitos autorais que não foi destruída pela distribuição digital, e há pouca resistência de qualquer lado.
Música a serviço de marqueteiros?
A pergunta é: o que acontece com a música em si quando a construção de uma carreira deixa de ser gravar canções para ouvintes comuns e passa a ser fazer música para o uso de marqueteiros? Isso cria pressão, sutil mas real, para que a música recue: adotar o elemento de vazio que torna uma trilha sonora tão discreta, editar uma letra para ser menos específica ou particular, deixar lacunas para a imagem ou a mensagem a que a música agora serve. Talvez a canção ainda cause a primeira impressão essencial, mas não será tão memorável ou independente.
A música sempre teve funções acessórias: uma trilha sonora, um jingle, uma declaração de marca, um chamado de acasalamento. Mas para os artistas que têm um perfil público, em oposição a compositores contratados, a questão era chamar atenção para a música em si. Depois que eram notados, os astros podiam contar suas histórias de carreira e música, e as canções tinham a oportunidade de criar suas próprias esferas. Se um número suficiente de pessoas gostasse das músicas, a recompensa viria da venda de discos e das execuções no rádio.
Quando Moby licenciou todas as canções de seu álbum “Play” de 1999 para anúncios e trilhas sonoras, a medida foi surpreendente e de mau gosto, mas gerou vendas do CD; um álbum que reunia amostras de blues e gospel em batidas para dançar conseguiu vender mais de um milhão de cópias.
Hoje os discos de platina são muito mais raros. Com exceção dos grandes nomes —como AC/DC, que deu à Wal-Mart exclusividade nas vendas de seu muito esperado disco “Black Ice” e vendeu mais de um milhão de cópias em duas semanas—, um contrato de marketing é provavelmente sua própria recompensa, mais que um detonador de carreiras.
Sem querer parecer insensíveis, os músicos insistem que a exposição do licenciamento faz crescer o interesse que costuma recompensar em vendas e/ou lealdade. Escutar uma canção como “Forever”, de Chris Brown, no rádio ou em um comercial tem um componente psicológico: outra pessoa já a aprovou. Os músicos que não querem esperar uma execução em massa imediata nas rádios colocam sua música no ar vendendo-a para publicitários. Isso pode ajudar a construir carreiras, como fizeram os anúncios da Apple por Feist e pela grande beneficiária deste ano, Yael Naim, cuja “New Soul” apresentou o MacBook Air.
Os consumidores reforçam os licenciadores de um modo quase perverso: pagam pela música como ringtone, mas não como uma canção em alta fidelidade.
Talvez seja século 20 demais esperar que a música fique isenta de multitarefas, ou que a constante insinuação do marketing em cada momento de nossa consciência pare quando uma canção começa. Mas por enquanto experimente isto: escolha uma canção sem ligações comerciais. Aumente o som. Feche os olhos. E escute.
Nova revolução pop: marketing de produtos
por Jon Pareles — Ensaio, "The New York Times"
Em “Creator”, a faixa mais crua do álbum de estréia e auto-intitulado de Santogold, a cantora Santi White gaba-se: “Sou uma criadora/ A emoção é fazer acontecer/ As regras que eu rompo me colocam no radar”.
É um manifesto boêmio franco, ousado e atraente, ou pelo menos era para mim, até que apareceu em um comercial de cerveja. E em outro de gel para cabelo.
Acontece que a rebelde rompedora de regras é apenas mais uma marqueteira bem-remunerada. A revista “Billboard” relatou que três quartos do excelente álbum de Santogold já foram licenciados para comerciais, videogames e trilhas sonoras, e a própria White aparece em uma publicidade, cantando para tênis. Ela claramente decidiu que ligar sua música a outras agendas mais mercenárias é seu caminho mais direto para aparecer.
Eu sei que preciso me acostumar. Afinal, essa é a realidade do setor musical do século 21. Vender discos para consumidores como obras de arte caras a ser apreciadas por si sós é um empreendimento reduzido hoje, quando há cópias livres à vontade na web.
Enquanto as pessoas ainda amam a música o suficiente para encontrá-la, colecioná-la e discuti-la, muitas não vêem motivo para pagar por música. A solução prática que surge é deixar que a música venda algo concreto: shows, camisetas, anúncios nos sites ou marcas.
Os músicos precisam comer e querem ser ouvidos, mesmo que isso signifique acompanhar um produto ou o videogame. Por que esperar o pinga-pinga dos royalties dos discos se as taxas de licenciamento são pagas adiantadas e de uma vez? É uma parte do sistema de regulamentação dos direitos autorais que não foi destruída pela distribuição digital, e há pouca resistência de qualquer lado.
Música a serviço de marqueteiros?
A pergunta é: o que acontece com a música em si quando a construção de uma carreira deixa de ser gravar canções para ouvintes comuns e passa a ser fazer música para o uso de marqueteiros? Isso cria pressão, sutil mas real, para que a música recue: adotar o elemento de vazio que torna uma trilha sonora tão discreta, editar uma letra para ser menos específica ou particular, deixar lacunas para a imagem ou a mensagem a que a música agora serve. Talvez a canção ainda cause a primeira impressão essencial, mas não será tão memorável ou independente.
A música sempre teve funções acessórias: uma trilha sonora, um jingle, uma declaração de marca, um chamado de acasalamento. Mas para os artistas que têm um perfil público, em oposição a compositores contratados, a questão era chamar atenção para a música em si. Depois que eram notados, os astros podiam contar suas histórias de carreira e música, e as canções tinham a oportunidade de criar suas próprias esferas. Se um número suficiente de pessoas gostasse das músicas, a recompensa viria da venda de discos e das execuções no rádio.
Quando Moby licenciou todas as canções de seu álbum “Play” de 1999 para anúncios e trilhas sonoras, a medida foi surpreendente e de mau gosto, mas gerou vendas do CD; um álbum que reunia amostras de blues e gospel em batidas para dançar conseguiu vender mais de um milhão de cópias.
Hoje os discos de platina são muito mais raros. Com exceção dos grandes nomes —como AC/DC, que deu à Wal-Mart exclusividade nas vendas de seu muito esperado disco “Black Ice” e vendeu mais de um milhão de cópias em duas semanas—, um contrato de marketing é provavelmente sua própria recompensa, mais que um detonador de carreiras.
Sem querer parecer insensíveis, os músicos insistem que a exposição do licenciamento faz crescer o interesse que costuma recompensar em vendas e/ou lealdade. Escutar uma canção como “Forever”, de Chris Brown, no rádio ou em um comercial tem um componente psicológico: outra pessoa já a aprovou. Os músicos que não querem esperar uma execução em massa imediata nas rádios colocam sua música no ar vendendo-a para publicitários. Isso pode ajudar a construir carreiras, como fizeram os anúncios da Apple por Feist e pela grande beneficiária deste ano, Yael Naim, cuja “New Soul” apresentou o MacBook Air.
Os consumidores reforçam os licenciadores de um modo quase perverso: pagam pela música como ringtone, mas não como uma canção em alta fidelidade.
Talvez seja século 20 demais esperar que a música fique isenta de multitarefas, ou que a constante insinuação do marketing em cada momento de nossa consciência pare quando uma canção começa. Mas por enquanto experimente isto: escolha uma canção sem ligações comerciais. Aumente o som. Feche os olhos. E escute.
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