Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo" de 4/dezembro/2010, no caderno "Opinião"
Desmemórias centenárias
por Ruy Castro
RIO DE JANEIRO - As esferas estavam indecentemente musicais em 1910. Naquele ano nasceram Claudionor Cruz (1º/4), Jorge Veiga (14/4), Custodio Mesquita (25/4), Vadico (24/6), Luiz Barbosa (7/7), Haroldo Lobo (22/7), Adoniran Barbosa (6/8), Nássara (11/11) e Noel Rosa (11/12). Todos esses compositores e/ou intérpretes teriam feito 100 anos este ano. E o que o Brasil fez pela memória deles em 2010?
As grandes massas terão sido lembradas de que Claudionor Cruz foi um dos autores da valsa "Caprichos do Destino", da marchinha "Eu Brinco" e do samba "Disse-me-disse"? De que, sem Haroldo Lobo, o Carnaval não teria "Alá-la-ô", "O Passarinho do Relógio", "Retrato do Velho", "Pra Seu Governo", "Tristeza" e o samba não conheceria "Emília"? Ou de que, sem Nássara ("Maria Rosa", "Periquitinho Verde", "Florisbela", "Balzaqueana", a dita "Alá-la-ô"), não haveria o Carnaval?
Em 2010, quantos se lembraram de Luiz Barbosa, que incorporou a caixinha de fósforos ao samba e lançou no rádio sucessos que outros consagraram, como "Seu Libório" e "Minha Palhoça"? Sem a bossa de Luiz Barbosa, teria havido a de Jorge Veiga com "Eu Quero é Rosetar", "Café Soçaite", "Estatuto de Gafieira"? E o que seria dos aviadores do Brasil sem Jorge a "orientá-los" pelo microfone dos auditórios? Estariam perdidos no céu.
Será que fizemos justiça a Custódio Mesquita, a quem devemos foxes e valsas como "Nada Além", "Mulher", "Enquanto Houver Saudade" e "Velho Realejo"? Já Adoniran foi bem mais festejado, mas terá sido suficiente?
Quanto a Vadico, seu centenário passou a zero. Mas, como co-autor de "Feitio de Oração", "Feitiço da Vila", "Conversa de Botequim" etc., ele será muito lembrado nas celebrações a Noel, no sábado próximo. Aliás, sem Noel, não sei se o samba teria sua precoce maturidade. Ou se teríamos o samba, ponto.
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