sábado, 11 de dezembro de 2010

Homenagem ao grande sambista

Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo" de 11/dezembro/2011, no caderno "Opinião"

Cantando para Billy
por Ruy Castro

RIO DE JANEIRO - Billy Blanco, 86, sambista brasileiro, autor de "Estatuto de Gafieira", "Viva Meu Samba", "Pistom de Gafieira", "Pano legal", "Aeromoça" e, em São Paulo, tão conhecido pelo "Vam'bora, vam'bora/ Tá na hora/ Vam'bora, vam'bora" de sua sinfonia "Paulistana", está internado num hospital carioca desde 2 de outubro por causa de um AVC. Desde então, Billy não se mexe nem fala. Sabe-se que está consciente porque às vezes abre os olhos e chora em silêncio.

Mas chora de emoção. Seus parentes e visitas não querem se arriscar a que, por trás dos olhos fechados e do semblante tranquilo, Billy os esteja ouvindo e entendendo tudo. Por isso, em vez de se lamentarem em voz alta pela sorte do amigo, preferem cantar para ele. E, vindo de Billy, há muito o que cantar.

Doris Monteiro canta "Mocinho Bonito" e "A Banca do Distinto", que Billy lhe deu nos anos 50. Leila Pinheiro, "Domingo Azul". Pery Ribeiro, "Esperança Perdida". Bilinho, filho de Billy e também cantor, põe para tocar o CD com a "Sinfonia do Rio de Janeiro", parceria de Billy com Tom Jobim, e faz um dueto com a voz do pai. Um dos netos de Billy, Pedro Sol, faz o mesmo com outra parceria Blanco-Jobim, a safadinha "Teresa da Praia". De repente, cantam em coro "Samba Triste" e "Se Gente Grande Soubesse", das mais bonitas de Billy.

O hospital fica na rua Moura Brito, na Tijuca, no mesmo quarteirão e calçada onde, há 60 anos, num porão, funcionava o lendário Sinatra-Farney Fan Club. Dele saíram grandes nomes da futura bossa nova, como Johnny Alf, João Donato e Paulo Moura. Billy também o frequentava, mas não apenas pela música: estava de olho em Ruth, uma bela associada, com quem se casou —até hoje.

Muitos ali já dividiram o palco com Billy. Mas nunca esse palco pareceu tão grande, intransponível e absurdamente vazio como aquele quarto de hospital.

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