terça-feira, 6 de julho de 2010

MPB: "exilada" e "undergound" no Brasil...

Texto publicado no portal "estadao.com.br" em 03/julho/2010 (16h00), na página de Notícias/Suplementos/Cultura

Sobe o som

Se você se pergunta por onde andam os grandes nomes da nossa música que mal dão as caras na TV aberta, mude para canais como TV Brasil, Canal Brasil e Globo News e Record News. É lá que os bambas da MPB são entrevistados por quem entende do assunto, lançam seus trabalhos e, claro, cantam, em programas que reinventam a maneira de apresentar música.

"A MPB está exilada no seu próprio país", dispara o crítico Tárik de Souza, que apresenta o MPBambas no Canal Brasil. O programa mostra o lado musical menos conhecido de gente que foi ou ainda é bastante conhecida. Na próxima quinta-feira, o humorista Chico Anysio relembra seus tempos de compositor, quando foi parceiro de gente como Altamiro Carrilho e Luiz Gonzaga. "Ele foi o primeiro a usar o termo ‘bossa nova’ numa música. Foi em 1955, com Cinema Bossa Nova", conta Tárik, dando uma palinha do recheio do programa. "A graça é mostrar o que essas pessoas, algumas até esquecidas, têm uma dimensão muito maior do que se possa imaginar."

Por que um programa como o MPBambas não está na TV aberta, acessível ao grande público, não é um grande mistério. A desculpa é que iniciativas desse tipo não atraem grande audiência. De dentro de uma espécie de oásis musical na grade da Globo, o Som Brasil, o diretor Luiz Gleiser prefere não questionar os motivos que levam o seu programa ser exibido à 1h40 da madrugada, uma sexta-feira por mês.

"Neste horário, posso experimentar à vontade, sem precisar dar explicações. A partir do momento que você vai para o horário nobre, o cenário muda", diz ele, que tem levado à maior emissora do País gente que nunca havia aparecido na TV. Com todos os poréns, a audiência do Som Brasil é bastante expressiva para o horário: marca em média 6 pontos.

Com grandes encontros musicais raramente vistos na TV aberta, o Altas Horas, pilotado por Serginho Groisman no mesmo canal e também na madrugada, endossa a receita, com boa audiência.

Plataforma. Qualquer telespectador com um pouco de memória pode perceber que o espaço destinado à música na TV não chega perto do que havia nos tempos dos grandes festivais ou de programas célebres como o Fino da Bossa, que Elis Regina e Jair Rodrigues comandaram nos anos 60 na Record. "É realmente incrível um país do tamanho do Brasil, com uma diversidade cultural enorme e que tem uma das melhores músicas do mundo, tenha tão pouco espaço para programas musicais", anota o sambista Diogo Nogueira, o mais badalado da nova geração - e olhe que aparece com frequência em auditórios como o de Faustão.

No ano passado, Diogo entrou para o time dos cantores e compositores que apresentam programas sobre música. O dele, o Samba na Gamboa, na TV Brasil, é um animado bate-papo em clima de botequim, por onde já passou gente como Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Jorge Benjor e João Bosco. No palco, entrevista e canta ao lado dos artistas. Com isso, nessas mais de 70 entrevistas, já gravou mais de 400 músicas - um acervo e tanto do melhor do nosso samba.

Para o ex-Titã Charles Gavin, que há quatro temporadas apresenta O Som do Vinil, no Canal Brasil - um dos que mais têm investido na música -, praticamente não há mais espaço para o que ele chama de "plataforma de lançamento". "É resultado destes tempos que estamos vivendo, em que a música sofre concorrência de outras formas de entretenimento, como videogames e até fofocas. Não sei aonde isso vai levar", lamenta. "Na condição de música e de quem se preocupa com a música, sou pessimista porque não sei como retomar os programas importantes de outros tempos, como o Cassino do Chacrinha e o Globo de Ouro. Desses, o único que sobreviveu é o Raul Gil e, justiça seja feita, é um bom espaço."

O declínio das gravadoras e a divulgação de conteúdo pela internet dão a falsa ideia de que qualquer um pode apresentar seu trabalho para o mundo. Mas mesmo com YouTube e MySpace a mil, a TV ainda é o mais poderoso veículo de divulgação. "A TV não vai perder nunca o seu lugar, o seu destaque", acredita Diogo. " Edu Lobo e Nara Leão se tornaram pop star quando foram lançados pela televisão. Hoje, gente como o Ginga, por exemplo, é consagrado nos subterrâneos. A MPB virou underground", encerra Tárik.

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