MÚSICA
Lista das mais tocadas consagra a canção simplória
Nova MPB e grupos jovens de rock perdem lugar para sertanejo moderno e pop digerível no levantamento das músicas mais executadas nas rádios brasileiras
por Thales de Menezes, da Reportagem Local
Depois de uma rápida olhada na lista das músicas mais executadas nas rádios do país, a constatação é inevitável: o gosto popular se afastou completamente do que a MPB produz de mais interessante e sofisticado.
Uma relação que teve em outras épocas "Olhos nos Olhos", de Chico Buarque, ou "Bem que se Quis", de Marisa Monte, fica hoje limitada a canções comportadas, anódinas, simplórias.
Trata-se da lista considerada a mais confiável no gênero, feita pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), que recolhe direitos autorais no Brasil. Engloba rádios AM e FM e abrange de janeiro a dezembro de 2009.
Entre as dez mais bem colocadas há apenas duas músicas de artistas estrangeiros, uma delas a campeã, "Halo", de Beyoncé. Com fenômeno de massa não se discute.
Outros 12 países também tiveram a música no topo das paradas. Pop eficientíssimo, de receita comprovada, feito para conquistar territórios sem se preocupar com as "vítimas".
A outra gringa da lista também segue uma cartilha redondinha: é "I'm Yours", de Jason Mraz, a bola da vez do surf pop, o estilo calminho e "pra cima" liderado por Jack Johnson.
Nas canções nativas, o sertanejo moderno predomina. Victor e Leo, puxados pela boa-pinta e por uma música na trilha de novela no ano anterior, emplacaram duas: a romântica "Borboletas" e a louvação à vida rural "Deus e Eu no Sertão".
Cheios de boas intenções, mas versos como "Foi tudo tão bonito, mas voou pro infinito/ Parecido com borboletas num jardim" entregam a escassez de recursos líricos.
Já João Bosco e Vinicius (nomes que involuntariamente evocam uma fase mais brilhante da MPB) são poeticamente tão "simples" que até uma vírgula falta no título da canção "Chora Me Chama".
Não se pode dizer que Nando Reis e Samuel Rosa não tenham os predicados para grandes composições. "Sutilmente", do Skank, é uma reserva de qualidade na lista.
Mas é triste que tanto ela como "Vem Andar Comigo", que é mais do mesmo Jota Quest, sinalizem um pop rock comportado, digerível. Onde estão as músicas dos grupos mais endeusados pela molecada?
NX Zero e Fresno fecharam o ano com milhares de fã-clubes, mas eles definitivamente não estão sentados esperando o rádio tocar. Devem estar espertos, baixando e trocando o que querem ouvir, na hora que bem entendem.
A chamada nova MPB, de Vanessas, Céus e Mallus, ganha comentários na mídia, mas nem sonha com um "top 10" assim. A lista é completada com gospel, pop rasteiro e trilha de luau que alguém pode até confundir com reggae de verdade.
A presença de Regis Danese se explica pela fé e só mesmo com muita fé para crer que "Faz um Milagre em Mim" mereça todo esse sucesso.
Já a bonitinha cantora pop Ornella de Santis teve ajuda do cantor Belo (a única e modestíssima menção ao samba) para transformar "Agenda" num hit "chiclete", à Latino.
E, para encerrar de forma sintomática este comentário, sobrou "Versos Simples", do Chimarruts, cujo título sintetiza e condena o atual estágio de nossa parada de sucessos.
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