Texto publicado no jornal "Folha de São Paulo" de 28/dezembro/2009, no caderno "The New York Times"
Acervos musicais podem viver em jukeboxes na web
por Brad Stone e Claire Cain Miller
SAN FRANCISCO - Com seu recente acordo para comprar o Lala, serviço de música na web, a Apple pode estar indicando o caminho para o futuro da música.
Nesse futuro, os acervos de música digital nos computadores pessoais poderão se somar a discos em vinil, fitas cassete e CDs no sótão empoeirado dos formatos musicais em extinção.
Os fãs de música usarão seus computadores e "smartphones" sempre on-line para visitar uma vasta jukebox na internet, onde cantos gregorianos, canções de Shakira e os vários séculos de música entre eles estarão instantaneamente disponíveis.
Para um pequeno, mas crescente, grupo de amantes da música, essa visão não é tão absurda. O consultor Josh Newman, 30, paga US$ 16 por mês pelo Spotify, um serviço de música por assinatura que está disponível oficialmente apenas na Europa e que permite que se escute ilimitadamente sua biblioteca musical on-line.
Desde que o Spotify introduziu um aplicativo para o iPhone, há alguns meses, Newman começou a escutar o serviço quase exclusivamente, embora ele tenha 35 mil canções em discos rígidos em casa. "A ironia é que eu nem sequer uso aquela música", disse Newman. "Sou um pouco preguiçoso. Se há um artista que eu quero verificar, prefiro escutar no Spotify do que ter de vasculhar minha coleção."
A ideia de uma jukebox ilimitada na web existe há algum tempo, mas agora está consumindo a atenção dos executivos da música. As gravadoras, que tinham US$ 40 bilhões em vendas anuais dez anos atrás, hoje faturam a metade disso.
Mais terrivelmente, o crescimento da receita de downloads digitais, que ainda é apenas 20% das vendas totais, está diminuindo.
O acordo pela pouco conhecida Lala foi pequeno para a Apple; o preço passou de US$ 80 milhões, segundo uma pessoa próxima ao negócio. Mas está gerando muito interesse pelo que pode dizer sobre os planos da Apple para a música "streaming" (em fluxo contínuo).
Com uma receita anual estimada de US$ 2 bilhões do iTunes, a Apple está em condições de orientar os consumidores pelo processo de armazenar suas coleções de música em servidores da web e executá-las de novas maneiras. Ela também pode integrar esse serviço de música ao iPhone, o iPod Touch e outros aparelhos.
Os usuários não precisariam mais sincronizar suas coleções de música entre os equipamentos, não teriam de se preocupar em ficar sem espaço de armazenagem no telefone e poderiam compartilhar playlists com facilidade.
A Apple também poderia pedir que os usuários paguem uma assinatura mensal pelo acesso a um catálogo de músicas do tipo Spotify, baseado na web. Dois executivos da indústria musical disseram que a Apple considera há anos um serviço de assinatura desse tipo.
David Pakman, sócio da firma de investimentos Venrock, disse que a Apple "poderia acelerar mais que qualquer outra companhia a passagem para a mídia na web". A aquisição da Lala, ele disse, "nos diz que já está fazendo isso".
Outros avanços recentes sugerem uma mudança iminente em uma abordagem da música na qual esta era vista como algo a ser possuído, fosse em formatos físicos ou digitais em seus computadores.
Em agosto, a Spotify lançou seu aplicativo para o iPhone, que armazena cópias temporárias de canções e playlists no telefone, de modo que a música continue tocando mesmo quando o aparelho sai da rede. O executivo-chefe da Spotify, Daniel Ek, disse que o número de assinantes saltou desde a introdução do aplicativo, mas não deu números exatos.
As novatas de tecnologia esperavam há anos que a vasta seleção e a conveniência da música baseada na web atraísse as pessoas a gastar alguns dólares por mês em assinaturas. Esse negócio ainda não se concretizou. Mas, com a atração adicional de que agora esses serviços podem ser acessados em "smartphones", muitos estão reavaliando o modelo.
"Não acho que os consumidores se importam com onde a música está arquivada, desde que eles possam obtê-la quando quiserem", disse David Hyman, executivo-chefe da Mog, que recentemente lançou o serviço de assinatura Mog All Access.
Bobby Mohr, fã de música que acumulou 100 gigabytes de canções, mantém algumas delas em serviços de armazenagem gratuitos na web, de modo que pode baixar as faixas quando viaja e "queimá-las" em CDs para o carro.
Mas Mohr, 23, hesita em abandonar a ideia de possuir a música. "Eu gosto de ter discos rígidos externos que são as arcas do tesouro da minha música", ele diz.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Pirataria versus pirataria
Texto publicado no jornal "Folha de S.Paulo" de 14/dezembro/2009, caderno "Dinheiro"
Pirataria on-line derruba venda nos camelôs
por Verena Fornetti, da Redação
Facilidade para baixar músicas de forma ilegal na web reduz oferta de cópias de CDs nos ambulantes, que agora priorizam arquivos de MP3
Mercado de DVDs falsos foi menos afetado pela internet devido à baixa penetração da banda larga no país, diz associação antipirataria
Nos camelôs na região central de São Paulo, um CD com cópias ilegais de músicas custa R$ 3, dois saem por R$ 5. As opções, porém, são limitadas. Tem Victor & Leo, com o álbum "Borboletas", e Mariah Carey, com o hit de novela "I Want to Know What Love Is". Mas nada de Pitty e NX Zero, que também estão entre os artistas mais tocados em rádios do país.
O motivo é a concorrência da pirataria na internet. De acordo com especialistas em propriedade intelectual, os consumidores preferem copiar arquivos da rede diretamente para os tocadores de MP3, sem passar mais pelos CDs.
"A mercadoria está escassa aqui. O pessoal não procura mais, já baixa tudo pela internet. Logo, logo vai acontecer o mesmo com os CDs de jogos. As vendas já caíram bastante", diz um vendedor de jogos eletrônicos piratas da rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo.
Em sete quadras, a Folha não encontrou nenhuma banca com cópias de álbuns de artistas.
Só havia CDs com canções gravadas em formato MP3, reunidas de acordo com o estilo musical. "Esse aqui é muito melhor que CD normal. Tem mais de cem músicas", propagandeava o vendedor.
Na região da rua 25 de março, no centro de São Paulo, só dois camelôs vendiam CDs gravados com músicas em formato tradicional nas seis quadras percorridas pela reportagem.
De acordo com a APCM (Associação Antipirataria de Cinema e Música), o número de CDs gravados apreendidos no país caiu 74% desde 2006, no período de janeiro a setembro.
"Estamos encontrando menos CDs nas ruas porque há uma quantidade menor sendo vendida", afirma Antonio Borges Filho, diretor-executivo da associação.
CDs x DVDs
A Associação Brasileira de Produtores de Disco destaca que a diminuição da pirataria de CDs gravados não significa queda no número de cópias ilegais de músicas. Paulo Rosa, presidente da entidade, afirma que o mercado fonográfico é o mais exposto à pirataria digital porque o arquivo de música pode ser copiado rapidamente na internet, ao contrário do que ocorre com filmes, jogos e programas de computador.
Borges destaca que o mercado de DVDs piratas é menos afetado pela concorrência da internet que o de CDs. "A banda larga só agora se difunde no Brasil. A demora ainda é muito grande para baixar um filme ou um desenho", diz Borges.
Ele diz que, com a disseminação da internet rápida, a tendência é que haja migração também no mercado audiovisual. Segundo dados do IBGE, o acesso à banda larga duplicou no país entre 2005 e 2008. Segundo o instituto, 80% da população brasileira que acessou a internet em domicílio no ano passado usou banda larga.
Pirataria on-line derruba venda nos camelôs
por Verena Fornetti, da Redação
Facilidade para baixar músicas de forma ilegal na web reduz oferta de cópias de CDs nos ambulantes, que agora priorizam arquivos de MP3
Mercado de DVDs falsos foi menos afetado pela internet devido à baixa penetração da banda larga no país, diz associação antipirataria
Nos camelôs na região central de São Paulo, um CD com cópias ilegais de músicas custa R$ 3, dois saem por R$ 5. As opções, porém, são limitadas. Tem Victor & Leo, com o álbum "Borboletas", e Mariah Carey, com o hit de novela "I Want to Know What Love Is". Mas nada de Pitty e NX Zero, que também estão entre os artistas mais tocados em rádios do país.
O motivo é a concorrência da pirataria na internet. De acordo com especialistas em propriedade intelectual, os consumidores preferem copiar arquivos da rede diretamente para os tocadores de MP3, sem passar mais pelos CDs.
"A mercadoria está escassa aqui. O pessoal não procura mais, já baixa tudo pela internet. Logo, logo vai acontecer o mesmo com os CDs de jogos. As vendas já caíram bastante", diz um vendedor de jogos eletrônicos piratas da rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo.
Em sete quadras, a Folha não encontrou nenhuma banca com cópias de álbuns de artistas.
Só havia CDs com canções gravadas em formato MP3, reunidas de acordo com o estilo musical. "Esse aqui é muito melhor que CD normal. Tem mais de cem músicas", propagandeava o vendedor.
Na região da rua 25 de março, no centro de São Paulo, só dois camelôs vendiam CDs gravados com músicas em formato tradicional nas seis quadras percorridas pela reportagem.
De acordo com a APCM (Associação Antipirataria de Cinema e Música), o número de CDs gravados apreendidos no país caiu 74% desde 2006, no período de janeiro a setembro.
"Estamos encontrando menos CDs nas ruas porque há uma quantidade menor sendo vendida", afirma Antonio Borges Filho, diretor-executivo da associação.
CDs x DVDs
A Associação Brasileira de Produtores de Disco destaca que a diminuição da pirataria de CDs gravados não significa queda no número de cópias ilegais de músicas. Paulo Rosa, presidente da entidade, afirma que o mercado fonográfico é o mais exposto à pirataria digital porque o arquivo de música pode ser copiado rapidamente na internet, ao contrário do que ocorre com filmes, jogos e programas de computador.
Borges destaca que o mercado de DVDs piratas é menos afetado pela concorrência da internet que o de CDs. "A banda larga só agora se difunde no Brasil. A demora ainda é muito grande para baixar um filme ou um desenho", diz Borges.
Ele diz que, com a disseminação da internet rápida, a tendência é que haja migração também no mercado audiovisual. Segundo dados do IBGE, o acesso à banda larga duplicou no país entre 2005 e 2008. Segundo o instituto, 80% da população brasileira que acessou a internet em domicílio no ano passado usou banda larga.
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